quarta-feira, 26 de junho de 2013

COMO RECONHECER PRECOCEMENTE OS SINTOMAS DO AUTISMO


Fonte: http://www.espacointegracao.com.br/artigos/autismo/

Por Jorge Roberto Fragoso Lins *

Em 1943, o psiquiatra austríaco e diretor do serviço de psiquiatria do Johns Hopkins Hospital, Dr. Léo Kanner, ao observar o comportamento de algumas crianças menores de um ano que fugia ao padrão de comportamento, assinalando para uma acentuada tendência ao retraimento e com diagnóstico de intensa debilidade mental ou de deficiência auditiva, tendo como principal indicativo a impossibilidade de estabelecer desde o início da vida contato com as pessoas e com a realidade que Kanner, depois de observar e estudar os onze casos que se deparou, sendo oito meninos e três meninas, descreveu e nomeou o quadro do autismo infantil precoce. Kanner relata que as crianças ao serem pegas pelos pais depois de horas sem vê-los, não esboçavam qualquer tipo de reação, não mudavam de posição ou mesmo de fisionomia. Outro aspecto observado é que as crianças não conseguiam se moldar ao corpo de quem as segurava.
Oito das onze crianças observadas adquiriram habilidade para falar na idade aproximadamente esperada. No entanto, não usavam a linguagem com o propósito de se comunicar. Existia a incapacidade de formular frases espontâneas e a reprodução era de maneira ecolálica, ou seja, repetia-se a última ou as últimas palavras que eram ditas pela outra pessoa (pai, mãe). É um fenômeno quase automático, involuntário, realizado sem qualquer tipo de planejamento ou controle. Por exemplo: alguém pergunta a uma pessoa “qual o seu nome?” A outra pessoa responde “Nome, nome.”
Foi, então, depois dos estudos realizados por Kanner que o autismo infantil tornou-se objeto de investigação de várias ciências como a psiquiatria, neurologia, neuropsicologia, psicologia, psicanálise e outras. Trinta e cinco anos atrás, precisamente em 1908, o italiano Sancta de Sactis descrevia a “demência precossíma”, baseando-se em observações de quadros demenciais em pré-púberes, caracterizados por uma sintomatologia semelhante à demência “precoce” que foi descrita em adultos por Emil Kraepelin.
Em 1993, com o surgimento da Classificação Internacional de Doenças, o autismo infantil passou a ser classificado entre os transtornos invasivos do desenvolvimento, com mais cinco outros que apresentam um quadro clínico de alterações qualitativas de interação social recíproca, linguagem e capacidade criativa.
Para alguns psicanalistas, existe a compreensão de que o autismo estaria vinculado a uma estrutura psicótica sendo uma variante da esquizofrenia. Eles asseveram que existiria como na psicose uma forclusão do Nome do Pai, um modo de retorno ao gozo. Esta visão é rebatida por outros psicanalistas que compartilham da idéia da não existência do Outro, do S1 e do Objeto a. Não podendo dizer em uma forclusão do Nome do Pai, mas sim de uma forclusão de uma simbolização primordial da mãe. É do discurso do mestre que partem os demais discursos.
As duas visões podem ser compreendidas da senguinte forma. No autismo haveria uma falha da função materna e, na psicose, uma falha da função paterna. Isso significa que no primeiro caso a mãe falhou na relação com o pequeno ser, não conseguindo estabelecer uma boa interação com ele, provocando, assim, uma experiência traumática de distanciamento no início da constituição subjetiva do indivíduo, ou seja, na fase de maior fragilidade e vulnerabilidade do ser humano. Portanto, é mais adequado dizer que existe uma exclusão ao invés de forclusão existente na psicose.
A realidade subjetiva é instituída na relação com o Outro, através do laço afetivo estabelecido por S1 e seus significantes. Portanto, como dizia Lacan (1901-1981), o discurso é aquilo que funda cada realidade: a realidade subjetiva é a realidade discursiva. No autismo não existe a entrada no Édipo por não ter ocorrido o desejo do Outro. Como o falo está ausente não há nenhum acesso à dimensão simbólica. Na estrutura psicótica o sujeito não se confronta com a castração e por isso não há a admissão da falta. A forclusão seria então uma rejeição absoluta em relação ao Nome-do-Pai, justamente o significante que funda a lei simbólica, a lei do significante que inscreve a falta no sujeito, não podendo, assim, ser integrada no inconsciente.
O indivíduo fica à mercê de uma relação com um Outro Absoluto. Isso significa que o sujeito fica colado numa identificação imaginária sob a forma de uma fragmentação objetal, não existindo a integralidade total do eu. O sujeito se organiza através de um imaginário fantasmático do seio, fezes, pênis, olhar e voz que se limita a simples signos sem atingir a condição de significantes. Não acontecendo o enlaçamento dos registros do real, do simbólico e do imaginário, também não existe a amarração do nó borromeano. A ruptura de um desses registros desorganiza toda a sujetividade.
Uma visão não psicanalítica compreende que os processos cerebrais ligados à comunicação sofrem alterações que desencadeiam o transtorno muito antes das primeiras características se apresentarem. Chegou-se a esta conclusão a partir de uma recente pesquisa conduzida pelo pesquisador Jason Wolff, da Chapel Hill University, da Carolina do Norte, publicada pelo American Journal of Psychiatry. Os pesquisadores investigaram o desenvolvimento cerebral de 92 bebês. Um aspecto significativo desta pesquisa é que todos os 92 bebês investigados eram irmãos de autistas. Os pesquisadores através de exames de ressonância magnética acompanharam as mudanças na organização neurológica dos bebês, e quando eles atingiram a idade de 2 anos, 28 crianças teriam desenvolvido o autismo. No entendimento dos pesquisadores a incidência do transtorno entre irmãos possibilita uma correlação genética. Foi observado que o componente sólido do sistema nervoso central – substância branca – que é responsável pela transmissão de sinais entre regiões do cérebro aos poucos foi se formando nas crianças que posteriormente desenvolveram o autismo. Já nas outras 64 crianças essa estrutura se desenvolveu logo. Também foram observadas alterações no desenvolvimento das fibras nervosas que conectam as áreas cerebrais. Segundo os pesquisadores, esses indícios podem sugerir a possibilidade que o transtorno alcance todo o cérebro e não uma única área específica.  
Descreveremos agora algumas das principais características do comportamento do bebê ou criança autista.

a)    A criança não se reconhece pelo nome. Os pais a chamam e ela não responde. Como ela é capaz de identificar outros sons, não se trata de um problema de surdez.

b)    A criança prefere ficar sozinha. Quando deixada deitada no berço ela não reclama, parece preferir o berço ao colo dos pais.

c)    A criança não fala, não olha e mostra certa apatia3. Têm uma fisionomia pouco expressiva e não interage com outras crianças.

d)    Crianças sem autismo geralmente imitam os adultos e querem todas as atenções voltadas para ela, já as crianças com sinais4 de autismo não acompanham os acontecimentos a sua volta.

e)    Quando a mãe sai para trabalhar ou volta do trabalho, a criança não mostra interesse por ela.

f)     Crianças de cerca de um ano com autismo vão de colo em colo e não estranham as pessoas, como seria esperado de uma criança nesta idade.

g)    Durante a amamentação5, a criança com autismo não interage com a mãe.

h)    Os autistas muitas vezes separam os objetos por cor, tamanho, etc. mantendo comportamentos repetitivos e sem finalidade aparente.

i)      A criança fica horas fazendo o mesmo movimento, com o mesmo objeto. No início pode parecer apenas ser uma criança tranquila, mas isso pode ser um dos sinais4 da doença. Um dos movimentos mais comuns é ficar rodando um objeto.

j)      A criança pode apresentar movimentos corporais repetidos, como movimentos de balanço, às vezes, até de forma violenta.

k)    Brincar de forma inadequada ou bizarra com os objetos.

l)      A criança utiliza as pessoas como instrumento. Pega na mão6 do adulto e o leva até o lugar onde quer que ele faça algo que ela deseja, ao invés de pedir o que quer na forma de uma solicitação verbal.

m)  Falta de consciência das situações que envolvem perigo.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo e pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.



segunda-feira, 24 de junho de 2013

O ÁLCOOL NO PERÍODO GESTACIONAL




Fonte: http://saude.culturamix.com/noticias/impactos-do-consumo-de-alcool-na-gestacao

Por Jorge Roberto Fragoso Lins*

O uso de bebidas alcoólicas durante a gestação será bastante nocivo para a mãe e o bebê, não existindo uma dosagem mínima pré-estabelecida que possa ser permitida que não acarrete danos para o desenvolvimento do feto. O álcool é uma substância com livre acesso a placenta e, consequentemente, ao feto. O fígado do feto que está em plena formação irá metabolizar o álcool duas vezes mais lento do que o fígado da gestante, significando que o álcool ficará por mais tempo no frágil organismo do feto. Os danos ao feto e a própria gestação que poderá ser interrompida por um aborto espontâneo ou mesmo por um trabalho de parto prematuro são riscos bem presentes. Quanto à incidência de abortos espontâneos os números quase dobram quando a gestante consome álcool.  Os danos causados no feto a depender da fase gestacional e da dosagem que é ingerida de álcool são diversos que poderão advir desde problemas hepáticos, neurológicos com retardo mental, problemas de coordenação motora, atraso no crescimento e problemas de comportamento.  A insistência por parte da gestante em consumir bebida alcoólica poderá acarretar na síndrome do alcoolismo fetal. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que no mundo 12 mil bebês nasçam a cada ano com a síndrome, ou seja, 2,2 de cada mil nascimentos vivos.

A síndrome do alcoolismo fetal é irreversível, sendo o ônus que o indivíduo pagará para o resto de sua vida. A síndrome é a consequência do consumo de álcool durante a gravidez. Ela é caracterizada pelo retardo no crescimento intra-uterino, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor e intelectual, distúrbios do comportamento (irritabilidade e hiperatividade durante a infância), diminuição do tamanho do crânio (microcefalia), malformações da face como nariz curto, lábio superior fino e mandíbula pequena, pés tortos, malformações cardíacas, maior sensibilidade a infecções e maior taxa de mortalidade neonatal.

Poderá acontecer que o bebê ao nascer não apresente nenhuma característica da síndrome, como por exemplo, algum defeito físico, e que alguns sintomas não sejam claramente observados até que a criança complete 3 a 4 anos de idade. O peso de um bebê que foi exposto ao álcool é de aproximadamente 2 quilos no momento de seu nascimento. Já o bebê que não foi exposto e é saudável em média nasce com 3, 5 quilos. Com o desenvolvimento da criança outros prejuízos vão sendo observados como memória fraca, falta de concentração, raciocínio fraco e incapacidade de aprender com a experiência. Não necessariamente essa ou aquela exposição do feto ao álcool assinalará cem por cento de chance de contrair a síndrome ou qualquer tipo de prejuízo, mas por outro lado como já dissemos não existe também níveis seguros de consumo que garanta a isenção.

Na maioria dos bebês que foi prejudicado antes de seu nascimento poderá não ocorrer às anomalias faciais e a deficiência do crescimento próprias da síndrome. No entanto, os fetos que foram expostos ao álcool portam danos cerebrais significativos ou mesmo comprometimentos que se assemelham aos da síndrome. A evitação ao consumo não deve se restringir apenas na gestação, mas durante todo o período de amamentação, isso porque o álcool pode passar para o bebê através do leite materno. É comum ouvir por parte de algumas mulheres que um simples drinque não faz nenhum mal. Um grande engano pensar de tal maneira. O álcool logo que é ingerido segue rapidamente para a corrente sanguínea da mãe, atuando sobre a criança logo após 10 minutos. Isso representa que o álcool consumido pela mãe lactante será ingerido pelo bebê.

A presença do álcool na gestação poderá ter como causa o impacto que muitas mulheres sofrem de estarem grávidas e gerando uma vida. Algumas mulheres são pegas de surpresa com a gravidez não estando preparadas emocionalmente e nem tampouco psicologicamente para assumir esse lugar de mãe. Muitas ainda vivem os mimos da mãe e do pai e a gravidez representa uma realidade extremamente nova e porque não dizer assustadora. A gravidez resulta para a mulher não apenas em um momento novo e delicado que ela irá aprender a lidar da melhor forma possível, encontrando o suporte necessário em seu companheiro e em sua família, mas também é um momento de recapitulação de sua vida, sobretudo, com relação aos seus pais e o lugar que ocupou para eles.

A responsabilidade, o como lidar e o medo de não conseguir ser uma boa mãe são fantasmas que rondam o imaginário das grávidas. No entanto, dizemos: errar faz parte do aprendizado e o instinto maternal é a seiva que faz eclodir o amor, fazendo com que essa mulher que um dia era apenas filha passe a ser uma boa mãe. Ser uma boa mãe não significa acertar em tudo, mas significa simplesmente ser uma boa mãe.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


sábado, 22 de junho de 2013

DEPRESSÃO PÓS-PARTO

                                                       Fonte: http://novotempo.com/radio/files/depress%C3%A3o1.jpg 

por Jorge Roberto Fragoso Lins *
 
Todo ciclo gestacional é considerado período de risco para o psiquismo da mulher, devido à intensidade da experiência vivida por ela, podendo incidir sobre psiquismos mais ou menos estruturados ou não. Mesmo mulheres com boa organização psíquica podem ver-se de frente a situações em que algo de seu psicológico foi afetado.  O processo de transformação psíquica que a mulher passa em sua gestação envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas, diferente para cada sujeito, que são elas: a transformação de filha para mãe, a da autoimagem corporal e a relação entre sexualidade e maternidade. A cada um desses momentos requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. Entre 10% e 20% das mulheres são acometidas pela DPP, podendo começar na primeira semana após o parto e perdurar até dois anos. Existem fatores de risco que vêm sendo estudados e demonstram uma alta correlação com a DPP. São eles: mulheres com sintomas depressivos durante, ou antes, da gestação, com histórico de transtornos afetivos, mulheres que sofrem de TPM, que passaram por problemas de infertilidade, que sofreram dificuldades na gestação, submetidas à cesariana, primigestas, vítimas de carência social, mães solteiras, mulheres que perderam pessoas importantes, que perderam um filho anterior, cujo bebê apresenta anomalias, que vivem em desarmonia conjugal, que se casaram em decorrência da gravidez.
A mulher perde rapidamente o status de gestante para se tornar mãe. Esse processo é bastante doloroso e em muitos casos a mulher ainda não está preparada para a maternidade. Aqui, urge diferenciar o período gestacional, cheio de planos, onde o imaginário está atuando excessivamente para a maternidade propriamente dita, que demandará a partir do nascimento uma tarefa infinitamente maior, além da própria existência da pessoa, repleta de inconvenientes e renúncia que é a de criar o filho. O que podemos dizer a esse respeito é que, a partir do nascimento desse bebê existirá a demanda do reconhecimento dessa criança, agora como pessoa e não mais como imagem idealizada. O que mais acontecesse no período gestacional é um verdadeiro culto a esse período e ao dia do nascimento, com filmagens e fotos que vão do início do aparecimento da barriga até o momento do parto, tudo repleto de muita expectativa, uma enorme idealização deste momento, que afinal é apenas uma das etapas de uma tarefa extremamente maior: criar um ser humano. Idealiza-se tanto que se faz necessário algum tempo para que a mulher se dê conta de que gerou uma vida extremamente frágil que requer cuidados. 
As mães assim que seus filhos nascem vivem a incompletude, o vazio da barriga, a separação. A mulher precisa de um tempo até que possa preencher este espaço. São necessários todo apoio e compreensão para que saiba que não há nada de errado com ela. Ser aceita em sua natureza de mãe será a etapa seguinte que diminuirá o seu mal-estar. Entretanto, fica o registro que, as mães que não deprimem podem não ter percebido o “outro” e continuar estabelecendo uma relação totalmente narcísica com seus bebês. Esses bebês tendem a se fazerem ouvir por meio de sintomas psicossomáticos, iniciando um ciclo de adoecimentos. O período gestacional é uma fase extremamente difícil para a mulher, pois mexe com muitos fatores desde os hormonais ao psicológico. A Depressão Pós Parto (DPP) está inserida nesse universo de fatores que eclodem em detrimento de uma demanda, e o diagnóstico precoce é de fundamental importância, sendo a melhor forma de evitar, atenuar ou reduzir a duração da DPP. 

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.

Artigo publicado no Jornal Diario de Pernambuco na edição de 18/12/2012 e no Portal do Cremepe: http://www.cremepe.org.br/leitorClipping.php?cd_clipping=55070.