sábado, 22 de junho de 2013

DEPRESSÃO PÓS-PARTO

                                                       Fonte: http://novotempo.com/radio/files/depress%C3%A3o1.jpg 

por Jorge Roberto Fragoso Lins *
 
Todo ciclo gestacional é considerado período de risco para o psiquismo da mulher, devido à intensidade da experiência vivida por ela, podendo incidir sobre psiquismos mais ou menos estruturados ou não. Mesmo mulheres com boa organização psíquica podem ver-se de frente a situações em que algo de seu psicológico foi afetado.  O processo de transformação psíquica que a mulher passa em sua gestação envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas, diferente para cada sujeito, que são elas: a transformação de filha para mãe, a da autoimagem corporal e a relação entre sexualidade e maternidade. A cada um desses momentos requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. Entre 10% e 20% das mulheres são acometidas pela DPP, podendo começar na primeira semana após o parto e perdurar até dois anos. Existem fatores de risco que vêm sendo estudados e demonstram uma alta correlação com a DPP. São eles: mulheres com sintomas depressivos durante, ou antes, da gestação, com histórico de transtornos afetivos, mulheres que sofrem de TPM, que passaram por problemas de infertilidade, que sofreram dificuldades na gestação, submetidas à cesariana, primigestas, vítimas de carência social, mães solteiras, mulheres que perderam pessoas importantes, que perderam um filho anterior, cujo bebê apresenta anomalias, que vivem em desarmonia conjugal, que se casaram em decorrência da gravidez.
A mulher perde rapidamente o status de gestante para se tornar mãe. Esse processo é bastante doloroso e em muitos casos a mulher ainda não está preparada para a maternidade. Aqui, urge diferenciar o período gestacional, cheio de planos, onde o imaginário está atuando excessivamente para a maternidade propriamente dita, que demandará a partir do nascimento uma tarefa infinitamente maior, além da própria existência da pessoa, repleta de inconvenientes e renúncia que é a de criar o filho. O que podemos dizer a esse respeito é que, a partir do nascimento desse bebê existirá a demanda do reconhecimento dessa criança, agora como pessoa e não mais como imagem idealizada. O que mais acontecesse no período gestacional é um verdadeiro culto a esse período e ao dia do nascimento, com filmagens e fotos que vão do início do aparecimento da barriga até o momento do parto, tudo repleto de muita expectativa, uma enorme idealização deste momento, que afinal é apenas uma das etapas de uma tarefa extremamente maior: criar um ser humano. Idealiza-se tanto que se faz necessário algum tempo para que a mulher se dê conta de que gerou uma vida extremamente frágil que requer cuidados. 
As mães assim que seus filhos nascem vivem a incompletude, o vazio da barriga, a separação. A mulher precisa de um tempo até que possa preencher este espaço. São necessários todo apoio e compreensão para que saiba que não há nada de errado com ela. Ser aceita em sua natureza de mãe será a etapa seguinte que diminuirá o seu mal-estar. Entretanto, fica o registro que, as mães que não deprimem podem não ter percebido o “outro” e continuar estabelecendo uma relação totalmente narcísica com seus bebês. Esses bebês tendem a se fazerem ouvir por meio de sintomas psicossomáticos, iniciando um ciclo de adoecimentos. O período gestacional é uma fase extremamente difícil para a mulher, pois mexe com muitos fatores desde os hormonais ao psicológico. A Depressão Pós Parto (DPP) está inserida nesse universo de fatores que eclodem em detrimento de uma demanda, e o diagnóstico precoce é de fundamental importância, sendo a melhor forma de evitar, atenuar ou reduzir a duração da DPP. 

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.

Artigo publicado no Jornal Diario de Pernambuco na edição de 18/12/2012 e no Portal do Cremepe: http://www.cremepe.org.br/leitorClipping.php?cd_clipping=55070.

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