por Jorge Roberto Fragoso Lins *
Todo ciclo gestacional é considerado período
de risco para o psiquismo da mulher, devido à intensidade da experiência
vivida por ela, podendo incidir sobre psiquismos mais ou menos estruturados
ou não. Mesmo mulheres com boa organização psíquica podem ver-se
de frente a situações em que algo de seu psicológico foi afetado.
O processo de transformação psíquica que a mulher passa em sua gestação
envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas,
diferente para cada sujeito, que são elas: a transformação de filha
para mãe, a da autoimagem corporal e a relação entre sexualidade
e maternidade. A cada um desses momentos requer uma reordenação psíquica
que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. Entre 10% e 20% das mulheres são acometidas pela DPP,
podendo começar na primeira semana após o parto e perdurar até dois
anos. Existem fatores de risco que vêm sendo estudados
e demonstram uma alta correlação com a DPP. São eles: mulheres com
sintomas depressivos durante, ou antes, da gestação, com histórico
de transtornos afetivos, mulheres que sofrem de TPM, que passaram por
problemas de infertilidade, que sofreram dificuldades na gestação,
submetidas à cesariana, primigestas, vítimas de carência social,
mães solteiras, mulheres que perderam pessoas importantes, que perderam
um filho anterior, cujo bebê apresenta anomalias, que vivem em desarmonia
conjugal, que se casaram em decorrência da gravidez.
A mulher perde rapidamente o status de gestante para
se tornar mãe. Esse processo é bastante doloroso e em muitos casos
a mulher ainda não está preparada para a maternidade. Aqui, urge diferenciar
o período gestacional, cheio de planos, onde o imaginário está atuando
excessivamente para a maternidade propriamente dita, que demandará
a partir do nascimento uma tarefa infinitamente maior, além da própria
existência da pessoa, repleta de inconvenientes e renúncia que é
a de criar o filho. O que podemos dizer a esse respeito é que, a partir
do nascimento desse bebê existirá a demanda do reconhecimento dessa
criança, agora como pessoa e não mais como imagem idealizada. O que
mais acontecesse no período gestacional é um verdadeiro culto a esse
período e ao dia do nascimento, com filmagens e fotos que vão do início
do aparecimento da barriga até o momento do parto, tudo repleto de
muita expectativa, uma enorme idealização deste momento, que afinal
é apenas uma das etapas de uma tarefa extremamente maior: criar um
ser humano. Idealiza-se tanto que se faz necessário algum tempo para
que a mulher se dê conta de que gerou uma vida extremamente frágil
que requer cuidados.
As mães assim que seus filhos nascem vivem a incompletude,
o vazio da barriga, a separação. A mulher precisa de um tempo até
que possa preencher este espaço. São necessários todo apoio e compreensão
para que saiba que não há nada de errado com ela. Ser aceita em sua
natureza de mãe será a etapa seguinte que diminuirá o seu mal-estar.
Entretanto, fica o registro que, as mães que não deprimem podem não
ter percebido o “outro” e continuar estabelecendo uma relação
totalmente narcísica com seus bebês. Esses bebês tendem a se fazerem
ouvir por meio de sintomas psicossomáticos, iniciando um ciclo de adoecimentos.
O período gestacional é uma fase extremamente difícil para a mulher,
pois mexe com muitos fatores desde os hormonais ao psicológico. A Depressão
Pós Parto (DPP) está inserida nesse universo de fatores que eclodem
em detrimento de uma demanda, e o diagnóstico precoce é de fundamental importância,
sendo a melhor forma de evitar, atenuar ou reduzir a duração da DPP.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.
Artigo publicado no Jornal Diario de Pernambuco na edição de 18/12/2012 e no Portal do Cremepe: http://www.cremepe.org.br/ leitorClipping.php?cd_ clipping=55070.
Artigo publicado no Jornal Diario de Pernambuco na edição de 18/12/2012 e no Portal do Cremepe: http://www.cremepe.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário