sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A ORIGEM DA CONSCIÊNCIA MORAL NA CRIANÇA


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A palavra “consciência” nos remete a uma estrutura importante de nossa mente que compreende a consciência do Eu como unidade integradora entre a mente e o corpo, compreendendo a consciência do “Eu” como única e singular que habita um corpo e que este lhe proporciona sensações e percepções que o afetam, podendo ser racionalmente compreendidas como sendo de fatores internos ou externos, sabendo, perfeitamente, fazer oposição ou, melhor dizendo, fronteira entre o Eu e o mundo externo; que tem consciência de sua vivência de tempo e espaço, conseguindo descrever o que é passado, presente e futuro, como também onde está e se localiza; que possibilita os mais variados tipos de atividades psíquicas como pensar, estudar, falar, fazer, caminhar, querer e tantas outras atividades conscientes. Em outras palavras, as qualidades do Eu são desenvolvidas para a realidade dos fatos, dos acontecimentos da vida e a partir da interpretação e compreensão do que o indivíduo se apodera, possibilite a melhor forma de convivência social, que deverá ser norteada por um conjunto de regras, costumes, tabus e convenções estabelecidas por uma sociedade. A compreensão de tais preceitos e, sobretudo, o se enquadrar neles, chamaremos de consciência moral. A mesma inclui o desconforto emocional de fazer algo como também à capacidade de saber abster-se de fazer.

A convenção das regras de convívio social é estabelecida pela cultura, sendo os pais ou quem ocupe esse lugar os primeiros representantes da simbologia cultural em nossa sociedade. Em outras palavras, antes que uma criança possa desenvolver uma consciência moral é necessário que ela tenha internalizado padrões morais que a cultura local preconiza como padrão comportamental de convivência na sociedade.

A consciência moral não acontece pela via da regulação dos pais ou de quem quer que seja; dependendo sim, da disposição da criança em fazer a coisa certa porque de fato ela acredita que é certo sendo este o motivo que a criança quando é desautorizada pelos pais de algo que esteja fazendo, pergunta de imediato o motivo da negativa. Dizer apenas que não é certo o que ela está fazendo sem explicar o porquê, não funciona como internalização do certo ou errado, já que não se deu oportunidade para a criança de ficar convencida de seu erro, mesmo porque em muitos casos o dizer dos pais não corresponde com o fazer, ou seja, a criança internaliza mais o que é o certo através do comportamento dos pais e não apenas do que é dito. No entanto, os pais não devem se ausentar de exercer o controle inibidor de certas ações praticadas por seus filhos, pois tal prática ajudará a criança a exercer a sua própria auto-regulação, ajudando-a a fazer o seu próprio esforço para conter seus impulsos.

A prática de alguns pais de sorrir com o que seu filho fez de errado ao invés de repreendê-lo – sem violência –, passando a mão sobre a cabeça do filho como se nada de errado tivesse acontecido e, ainda, dizendo que tal comportamento é coisa de criança e quando ele crescer não acontecerá mais tal prática, é extremamente nociva para a constituição da personalidade e caráter desse indivíduo. É preciso saber que os pais ao repreender seu filho por algo que ele fez de errado como, por exemplo, por ter sido agressivo com outra criança ou mesmo com um adulto, está ajudando o filho a exercer o poder de auto-regulação que é o principal fundamento da socialização, controlando sua agressividade para que possa canalizá-la numa forma aceitável pela sociedade, como nos esportes, mas para isso é necessário que exista a internalização introduzida pelos pais. De que modo, então, se vale a cultura para inibir ou mesmo eliminar a agressividade que a defronta? A este questionamento deixaremos que Freud responda:


(...) O que sucede nele [o indivíduo], que torna inofensivo o seu prazer na agressão? (...) A agressividade é introjetada, internalizada, mas é propriamente mandada de volta para o lugar de onde veio, ou seja, ou seja, é dirigida para o próprio Eu. Lá é acolhida por uma parte do Eu que se contrapõe ao resto como Super-eu e que, como “consciência”, dispõe-se a exercer contra o Eu a mesma severa agressividade que o Eu gostaria de satisfazer em outros indivíduos estranhos. À tensão entre o rigoroso Super-eu e o Eu a ele submetido chamamos consciência de culpa; ela se manifesta como necessidade de punição” (Freud 4, 2, p. 92/250).


Reforçando o dizer de Freud, mas obviamente, conforme o seu entendimento, o Winnicott diz que a moralidade depende da capacidade de sentir culpa e de reparar o objeto cuja danificação provocou culpa. 

É importante dizer que, para existir essa consciência, ou seja, a consciência de culpa será preciso que antes esteja bem definido para o sujeito o conceito de certo e errado, sendo em casa com os pais que ele terá as primeiras lições. O esforço em conjunto da família que apresenta um ambiente sem maiores pertubações, contribuirá para a formação da personalidade e do caráter da criança, pois a compreensão dessa dinâmica nos leva a mencionar uma frase de Freud quando ele diz “que a criança é o pai do homem”, ou seja, antes do indivíduo ser um homem ele teve a sua fase de criança, período este que a sociedade espera que tenha existido uma preparação para a vida social.   

Ao ter uma compreensão das respostas emocionais dos pais relativas à conduta que eles aprovam para ela, a criança na medida em que processa, armazena e age de acordo com tais preceitos, crescerá nela a necessidade de agradar aos pais, fazendo aquilo que eles querem que ela faça, quer estejam ou não por perto, mas para isso acontecer existem inúmeros outros fatores que começaria antes mesmo do nascimento com o desejo dos pais que ela venha ao mundo. 

O desejar dos pais antes mesmo que seu filho venha ao mundo é a primeira condição de se estabelecer um bom relacionamento entre eles e o filho, mas não quero dizer com isso que acontecendo uma gravidez inesperada os pais também não venham desejar da mesma forma. O que de fato é importante nessa história é o desejar.  

Uma boa construção do laço familiar que só se consegue paulatinamente com a convivência é condição sine qua non para a harmonização doméstica, e também para dar o suporte necessário para a criança enfrentar as suas inúmeras ansiedades, próprias das fases de seu desenvolvimento. Um ambiente acolhedor propiciado pelos pais, uma boa relação fundada no amor, respeito, compreensão e amizade, propicia um melhor diálogo entre pais e filho, fazendo com que o mesmo se sinta seguro em dizer coisas sobre ele que jamais seriam ditas, caso não existisse o referido clima, mas para que isso aconteça é necessário que os pais se façam presentes na vida do filho, sabendo, obviamente, respeitar o espaço do filho. Esse clima favorece as identificações e a socialização da criança que em um dia não muito distante para os pais se tornará um adulto. 

O apego seguro e um relacionamento afetuso e mutuamente responsivo entre pais e filhos parecem favorecer a obediência comprometida e o desenvolvimento da consciência moral, segundo Papalia, Olds & Feldman (p.218, 2010).
   
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O SEXO NA GRAVIDEZ E AS ALTERAÇÕES ORGÂNICAS E PSÍQUICAS DA GESTANTE


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

            É natural durante o período gestacional que as futuras mães e pais fiquem receosos em se relacionar sexualmente e tragam questionamentos do tipo: existirá algum desconforto para ela? Com os movimentos corre o risco de machucar o bebê ou mesmo provocar algum dano para o desenvolvimento da gestação? Enfim, fazer sexo durante a gravidez faz bem ou mal? A preocupação e os cuidados do casal  aumentam quando já existe algum caso de aborto natural.

            O sexo sempre teve a sua parcela de importância na vida de um casal e não será agora que o casal está esperando um filho, melhor dizendo, grávidos, que deixará de ter. O desejo do homem em manter relações sexuais com sua mulher também levanta a autoestima dela, fazendo com que ela se sinta desejada como mulher, mesmo não se sentindo tão atraente naquele período, já que seu corpo passa por profundas modificações e seu organismo passa por grandes alterações  fisiológicas e bioquímicas, a se somar com as alterações psicológicas.

            É importante que o homem saiba que por volta do segundo trimestre da gravidez com o aumento das sensações incômodas, a libido da mulher pode cair e acontecer o desinteresse momentâneo pelo sexo. No entanto, isso não será um fator definitivo durante toda a gravidez. Como a região da vagina está extremamente sensível devido a uma maior vascularização da região, a libido da mulher poderá voltar ou ainda, poderá ser maior. Em outras palavras, seu apetite sexual estará aumentado. 

            No período gestacional é comum que na medida em que o feto for se desenvolvendo a mulher sinta dores nas costas, sendo mais fácil agachar-se do que se abaixar; os seios fiquem maiores, pesados e mais sensíveis ocasionando dor, um líquido transparente parecido com leite comece a sair dos mamilos; as fezes podem ficar mais duras dificultando a defecação, ou seja, prisão de ventre; devido às alterações hormonais é uma constância a existência de queixa de azia. Outras alterações seriam o inchaço em partes do corpo, câimbras nas pernas, estrias etc.

No aspecto psicológico, os primeiros três meses equivalem a um período de adaptação da mulher com sua gravidez, podendo ocorrer alterações significativas. A primeira pode ser a própria aceitação de estar grávida, pois pode se tratar de uma gravidez inesperada e, consequentemente, não planejada, e até mesmo uma gravidez indesejada. Outra alteração que surge no início da gestação diz respeito à ansiedade que a mulher apresenta em relação à própria gravidez, como por exemplo, o medo de ter alguma complicação na gestação que venha a perder a criança. Com o desenvolvimento da gravidez e o natural ganho de peso que provoca muitos incômodos, muitas gestantes ficam com o seu emocional abalado, provocando um sentimento de baixa autoestima. Com a aproximação e a chegada do bebê, surge a preocupação com o nascimento (parto) e a insegurança de assumir  a função de mãe. Salientando que, em todo o desenvolvimento gestacional tanto a mãe como o pai, provavelmente, estará revivendo sua fase edipiana, ou seja, revivendo seus laços e experiências vividas com seus pais e com sua família. Uma boa passagem pelo Édipo será extremamente importante para a constituição desses sujeitos como pais.

O desenvolvimento gestacional deve implicar numa decisiva e importante travessia para o casal, a mulher deixa de ocupar apenas o lugar de mulher e esposa para ocupar, também, a função de mãe; o homem deixa de ocupar apenas o lugar de homem e esposo para ocupar, também, a função de pai. Essa experiência deve acontecer no transcurso da gravidez, intensificando-se com o nascimento.  Crescem as responsabilidades e logo a insegurança e o medo de como exercer essas funções estarão presentes.  

Outros aspectos psicológicos poderão estar presentes na gravidez a depender da personalidade e historia de vida de cada gestante, mas concluiremos essa parte mencionando o homem, muito pouco comentado nesse artigo. O pai ou o futuro pai também enfrenta algum tipo de alteração emocional, o mais comum é o de se sentir abandonado durante a gravidez da mulher, já que muito de seu a libido e desejo se voltam para o futuro membro da família.  

Retornando o que já mencionamos no início de nosso texto, o sexo é importante na vida do casal e não deixaria de ser na gravidez, mas obviamente que o mesmo deverá ser feito com muito carinho e cuidados especiais. Conforme o útero da mulher for crescendo, o homem deverá posicioná-la confortavelmente sem compressão forte sobre o bebê, evitando, assim, qualquer sobrecarga além do próprio peso da gravidez. Evitar ao máximo que a coluna seja forçada durante a relação e a qualquer momento da gravidez. No entanto, o sexo não é recomendado quando estiver existindo sangramento ou risco de sangramento, ameaça de aborto ou de parto prematuro. Essas ameaças acontecem geralmente nos primeiros três meses de gravidez, mas o casal deve estar atento durante todo o período gestacional. Superadas as ameaças o sexo poderá acontecer, mas lembrando, todo o período gestacional deverá ser acompanhado de um médico.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A COMPREENSÃO DO BRINCAR PELA PSICOLOGIA E PSICANÁLISE


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A compreensão das crianças de que os objetos são independentes e que possuem características e localizações próprias no espaço é extremamente importante para uma visão ordenada da realidade física. Esse entendimento ajuda a fundar a base para a consciência que as crianças têm de que elas mesmas existem separadamente dos objetos e, sobretudo, das outras pessoas. Um ponto fundamental da compreensão da criança em relação aos objetos é o conceito de permanência, é a percepção de que um objeto ou mesmo uma pessoa continuará existindo mesmo que esta esteja fora do campo de visão da criança. O desenvolvimento desse conceito é visto através do jogo de se esconder que muitas mães, pais ou cuidadoras fazem, desaparecendo e reaparecendo para a criança. O reaparecimento da pessoa é recebido pela criança com gestos e tons de voz que esbanjam alegria e prazer. A alegria que o bebê sente com relação à brincadeira representa uma estimulação sensorial que é aumentada pelo fascínio que ele tem por rostos, vozes e em especial pelos tons mais agudos que é costumeiro os adultos usarem com eles.

A brincadeira contribuirá para vários propósitos importantes para a vida da criança, e um dos, segundo Freud, está em dominar a ansiedade quando a mãe estiver ausente. Certa vez, nos esclarece Freud, sua filha precisou se ausentar de casa por algum tempo e pediu que ele cuidasse do neto pequeno. Freud observou, então, que o menino passou a brincar jogando um carretel que estava preso a um fio, de dentro do berço para fora, de modo que o mesmo desaparecia sob a cama. O neto repetiu várias vezes esse jogo e não chorou porque sua mãe estava ausente. Quando jogava o carretel para fora do berço Freud observou que o neto produzia um som que se assemelhava a este: ó ... ó... ó... Já, quando puxava o fio e tinha o carretel em seu poder à criança dizia: dá...dá...dá com uma expressão de felicidade no rosto. A compreensão de Freud para o fato fez com que ele pensasse algo que tivesse semelhança com a brincadeira de desaparecer e reaparecer do adulto, algo que tivesse o mesmo sentido do “sumiu e achou”, denominando, assim, a brincadeira que seu neto Ernst se ocupava de fort-da, relatando posteriormente sua experiência com o neto em seu livro Além do Princípio do Prazer (1920). Esta experiência serviu para que Freud elaborasse seu texto “Repetir, Recordar e Elaborar”, onde ele trata das compulsões. “Fort” teria um significado parecido a “fora” ou “ir embora” e “Da” algo semelhante a “aqui”.  

O jogo do carretel mostra claramente a noção de objeto independente, de localização e de espaço do qual nos referimos no início de nosso texto,  como também a distinção essencial entre o “Eu” e o “Não-Eu” que fundamenta o mecanismo subjetivo para o discurso como sujeito da enunciação, a saber, para a linguagem. De forma ainda rudimentar, Ernst buscou com o lançar do carretel para fora do berço e depois trazendo para si, emitindo para cada comportamento realizado um determinado som (fort-da), atribuir um sentido para o que fazia e, assim, controlar sua ansiedade por sua mãe não está presente, segundo Freud. Nesse sentido, o que é perfeitamente observado é a morte da coisa, também conhecida como objeto perdido ou objeto a, e o emergir do simbólico e do desejar. De certa forma, o bebê está seguindo o mesmo caminho que sua mãe fez ao nomear suas necessidades. Dito de outra maneira, Ernst ou qualquer outra criança que não possui maiores problemas psíquicos e cognitivos só consegue ter a condição que teve Ernst de fazer uma representação do objeto carretel com a presença e ausência de sua mãe se antes teve o privilégio de ter uma mãe satisfatoriamente boa que se inscreveu nele como significante primordial, ou seja, como o Outro primordial que o instituiu no simbólico.  

Quando tomamos como referência o conceito de Freud do fort-da, consequentemente, o associamos ao conceito de permanência do qual mencionamos no começo de nosso trabalho. Dito de outra forma, mesmo sem  a presença física da mãe, Ernst de sua forma percebia que aquele objeto continuava existindo. Nesse jogo de lançar o carretel e depois trazê-lo de volta quando desejasse não só trazia a questão da separação de sua mãe, mas possibilitava a condição de associar o objeto carretel ao objeto mãe, e com isso a condição de empoderamento do objeto que é representado pelo carretel.

Na medida em que o bebê vai desenvolvendo sua competência para prever acontecimentos futuros, a brincadeira do desaparecer e reaparecer vai tomando novas dimensões que irão enriquecer a experiência. Por volta dos três aos cinco meses de idade, o bebê terá um ganho em sua percepção, ou seja, o da expectativa do que irá acontecer depois que o adulto desapareceu de seu alcance visual. Assim que o mesmo reaparecer o bebê se deixará levar por boas gargalhadas. O bebê entre cinco e oito meses ao ouvir a voz do adulto irá demonstrar uma antecipação ao olhar e sorrir para a direção que ouviu a voz. Com um ano, o bebê já se mostra ativo para as brincadeiras, envolvendo inteiramente o adulto e podendo ficar insistente até conseguir o seu intento de brincar com ele.

As brincadeiras infantis possuem um cunho psíquico e comportamental extremamente importante tanto para as crianças quanto para os estudos dos profissionais de psicologia. Sustentadas pelas mais diversas fantasias que estão ocultas no indivíduo, elas não estão alheias a sua realidade. A temática é revestida de tamanha importância que não custa lembrar que Freud fundou a psicanálise e desenvolveu seus primeiros trabalhos ao estudar e analisar as fantasias das histéricas.

            Freud entendia que a criança ao brincar tem prazer na aparente onipotência que passa a possuir ao manipular os objetos cotidianos que para ela seriam símbolos imaginários, como o fort-da, onde seria evocada a presença da mãe que estaria presente numa análise infantil. No entanto, não se aprofundou na temática tanto como Melanie Klein que verdadeiramente trouxe a brincadeira para o setting analítico. Klein reconheceu uma semelhança entre uma atividade lúdica infantil com o sonho de um adulto, e as verbalizações da criança ao brincar a uma associação livre clássica. Por sua vez, Winnicott seguiu vários dos preceitos de Klein e situou o brincar como um objeto de estudo, estabelecendo o brincar do analista, e o grande valor que essa atividade possui em si, instituída como uma atividade infantil que também faz parte do universo dos adultos. Em outras palavras, o brincar para Winnicott, é algo além de imaginar e desejar, brincar é o fazer.

            Winnicott entendia o brincar tanto para as crianças como para os adultos como um campo transitório, intermediário entre o mundo psíquico e o mundo socialmente construído. Este campo seria constituído das duas realidades do sujeito, ou seja, pela realidade interna e externa. Esta seria a forma como Winnicott compreendia o brincar.

            A área intermediária se constituiria com o desenvolvimento da  capacidade do bebê de perceber e aceitar a realidade social, ou seja, a realidade externa. Ela teria um aspecto transitório que se inicia com a ilusão do bebê que se percebe o todo poderoso que possui o poder sobre o seu redor. Até ai se assemelha ao que Freud mencionou com a onipotência que passa a possuir a criança ao manipular os objetos do cotidiano que para ela seriam símbolos imaginários. No entanto, o pensar de Winnicott vai se afastar de qualquer semelhança do pensar de Freud, quando ele afirma que a criança passa pela desilusão quanto à sua própria onipotência, desconstruíndo o que até então tinha como realidade e começa a aceitar a realidade que o social construiu para ela. Quando o indivíduo chega à vida adulta esse campo intermediário será perfeitamente percebido em sua manifestação artistica, na religião e na cultural de uma maneira mais ampla. O que deve ficar claro é que tanto a fantasia como a própria ilusão permanecerão para o resto da vida do sujeito, afinal de contas, ninguém vive sem um mínimo de fantasia.  

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

O CHORO E O OLHAR DO BEBÊ


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Compreender a demanda de um bebê apenas pelo seu choro é uma tarefa bastante difícil, sobretudo, para os pais de primeira viagem. Mesmo existindo algumas necessidades corriqueiras que apontam para o dia a dia da criança como, por exemplo, fome, cólica e sono, decifrar naquele momento qual está sendo a causa do choro demanda tempo e muita observação por parte da mãe e do pai. Foi visando ajudar os pais e profissionais da psicologia a compreender um pouco mais sobre o universo dos bebês que o professor D. Mariano Chóliz, professor titular de la Universidad de Valencia en la Facultad de Psicología, realizou uma pesquisa que assinalou para algumas respostas dadas pelos bebês no momento em que choravam.

Através de uma sistemática e cuidadosa observação que incluiu filmagens e fotografias, Chóliz e seus colaboradores acreditam ter desenvolvido uma técnica de observação mais precisa no que se refere às diferenças do choro e do grito dos bebês.

Chóliz e seus colaboradores determinaram três tipos diferentes de  choro, não sendo objeto de sua pesquisa o choro motivado pela fome. Seu trabalho o conduziu para três emoções básicas: medo, raiva e dor. Chóliz tomou como base de suas observações a atividade dos olhos na “dinâmica do choro”. O pesquisador afirma que os bebês que choram por causa de raiva ou medo, mantêm seus olhos abertos e quando sentem dor, os mantêm os olhos fechados. Chóliz justifica dizendo que, se o bebê estiver com raiva tanto os gestos quanto a intensidade do choro aumentam gradualmente e, quando o  choro for mais intenso é porque o bebê está sentindo dor ou porque está com  medo. No entanto, "embora os observadores não tenham conseguido reconhecer a causa corretamente, quando os bebês choraram porque estavam com dor, isto provocou uma reação afetiva mais intensa do que quando eles choraram por causa de raiva ou medo", destaca Chóliz.

Observem, agora, a descrição feita por Chóliz das razões do choro dos bebês.

Bebê chorando de raiva (Características)
Quando está com raiva, a maioria dos bebês mantém os olhos semicerrados - ou aparentemente não olhando para direção nenhuma, ou de um modo fixo e proeminente. A boca fica aberta ou semi-aberta, e a intensidade do choro aumenta progressivamente.
Bebê chorando de medo (Características)
No caso do medo, os olhos do bebê permanecem abertos quase o tempo todo. Além disso, às vezes as crianças têm um olhar penetrante e movem sua cabeça para trás. Seu grito parece ser explosivo, depois de um aumento gradual da tensão.
Bebê chorando de dor (Características)
A dor se manifesta por um choro com os olhos constantemente fechados. Quando os olhos se abrem, é apenas por alguns momentos, verificando-se um olhar distante. Além disso, há um elevado nível de tensão na área dos olhos e a testa fica franzida. O grito começa com a intensidade máxima, começando de repente e imediatamente após o estímulo que gerou a dor.
 * Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.

SÍNDROME DO BEBÊ SACUDIDO


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A síndrome do bebê sacudido ocorre geralmente em crianças com menos de 2 anos de idade e, sobretudo, com bebês, que invariavelmente resulta em trauma grave e irreversível para a criança. A criança poderá apresentar um universo de sintomas que variam de uma letargia, tremores ou vômitos chegando à convulsão, estupor ou coma que por sua vez poderá levar a incapacidade de sugar ou engolir, emitir sons ou acompanhar um objeto com os olhos.

A síndrome acontece por causa da forte sacudidela que o bebê sofre da mãe ou de sua cuidadora. Muitas mães, cuidadoras e os pais perdem a paciência com bebês que choram muito ficando visivelmente irritados. Na tentativa de acalmar seus filhos eles, então, sacodem violentamente os bebês não se dando conta da condição de fragilidade e vulnerabilidade em que a criança nesse período se encontra. Por não existir sinais visíveis de lesões, geralmente o pai ou a mãe ou cuidadora negam qualquer tipo de comportamento de exacerbação para com a criança.

Somente com um exame mais minucioso é que existe a possibilidade de serem reveladas as escoriações sofridas pelo bebê.

Os bebês que conseguem sobreviver poderão sofrer de uma série de deficiências, de transtornos da aprendizagem e de comportamento a lesões neurológicas, paralisia cerebral, paralisia ou cegueira, retardo mental, ou mesmo ficar para o resto da vida num estado vegetativo.

Não apenas a sacudidela por estar irritado, mas também certas brincadeiras de jogar a criança para o alto ou outras inapropriadas poderão também provocar as mesmas lesões e comprometimentos na criança.

É preciso saber que os bebês e as crianças de forma geral estão em pleno processo de desenvolvimento, e os bebês, como são extremamente frágeis, requer da mãe, ou do pai ou da cuidadora muita paciência, atenção e carinho.

Os pais e de maneira geral os adultos devem compreender que o choro do bebê é o único canal de comunicação que ele possui para chamar a atenção de sua mãe ou de seu cuidador, de que ele está sentindo algum mal-estar e que requer rapidamente uma ação da mãe para saná-lo. Portanto, a melhor coisa a ser feita é uma investigação para saber a causa do choro e está deverá ser conduzida com muito amor e sem desesperos. Perder a paciência ou canalizar o estresse do dia a dia ou de algum problema no bebê é um comportamento extremamente indesejável!

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O NOME DO BEBÊ, UM SIGNIFICANTE QUE SE INSCREVE PARA O RESTO DA VIDA


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Um novo mundo se apresenta para o bebê com a saída do conforto e segurança do útero materno, um mundo que lhe trará tensões, satisfações, frustrações, adaptações que darão início a sua caminhada para o simbólico, ou seja, que irá fundá-lo como um sujeito desejante. Dito de outra forma, o bebê enfrentará um grande desafio a partir de seu nascimento, o de se adaptar ao mundo externo, mundo este que poderá ser harmônico ou extremamente hostil.

A continuação de sua relação com a mãe agora passa por um novo e importante estágio, sendo a mãe ou quem ocupe essa função o primeiro Outro na vida da criança, um Outro que ainda não é um Outro externo já que, o que existe é uma representação fantasmática de uma unicidade dos corpos, ou seja, mãe e bebê estão fundidos em um único corpo. No entanto, será através da mãe que assume a função do Outro primordial que o bebê ao se alienar ao desejo dela dará os primeiros passos para a sua constituição subjetiva. A voz e o olhar fornecerão estímulos pulsionais que inundarão o bebê com afetividade e desejo, isto é, se for uma mãe o suficientemente boa, construindo, assim, o Eu Corporal, que segundo Birman seria a constituição Corpo Sujeito.

Será pela fala que a mãe nomeará as necessidades do filho. Por exemplo, se o bebê chora, a mãe entenderá que aquele choro não é de fome, mas sim porque  ele está abusado por estar com sono, então ela diz: “Sim, mamãe sabe que bebê tá com soniiiinho!”. Esta mãe assim procedendo está inscreve na criança que está necessidade fisiológica tem um nome, sono. Por sua vez essa rede de comunicação de signos formulará a mensagem para a mãe que o bebê precisa de um aconchego que o livre dessa tensão – que seria o abuso por não estar conseguindo dormir – possibilitando uma forma para que ele possa adormecer.

Sabemos que não existe de forma racional uma reflexão por parte do bebê, mas na medida em que essa mãe compreende a mensagem enviada pelo bebê de sua necessidade – sono, dormir – e logo o põe para dormir, a repetição desta experiência criará um condicionamento associativo que terá o valor de um reforço positivo, ou seja, “choro de sono somado ao aconchego da mãe é igual a dormir”. No entanto, mesmo que acha uma boa sincronia nessa rede de comunicação existirá sempre uma falha, um resto, um resíduo, algo que escapa e que irá fundar o sujeito dividido por natureza ($), ou seja, o sujeito do inconsciente.

Fica claro, agora, o quanto a nomeação da mãe às necessidades do filho é importante e poderosa para o pequeno e frágil ser, podendo dizer que ao longo de todo o desenvolvimento da criança muitas nomeações serão feitas pela mãe ou pelos pais que irão ajudar a formar a personalidade desse indivíduo.

Uma das mais importantes e significativas nomeações que os pais se incumbem de realizar é o de dar o nome de seus filhos. Definitivamente não é uma tarefa fácil! Em muitos casos, busca-se colocar o mesmo nome do pai ou do avô ou da avó dando um sentido de continuidade; em outros, um nome que antes mesmo de se casar já sonhava em colocar; noutros, os pais são “inspirados” a colocar o nome de alguém famoso; ainda existem casos de uma combinação do nome do homem com o da mulher que na maioria das vezes gera um nome incomum e nada harmônico; também há casos do nome e sobrenome serem estrangeiros com o final bem brasileiro como, por exemplo, Anthony Edward Silva; ainda existem nomes extremamente feios e nunca visto antes e para encerrarmos essa via-crúcis em torno de um nome próprio a ofertar ao filho, deparamos com a colocação de um nome que já foi de alguém, ou seja, um filho morre e os pais decidem colocar o mesmo nome no filho que nasceu depois.

Como vimos, existe uma variante de possibilidades de escolhas que irá significar no futuro alguma coisa muito forte para o sujeito, a saber, um significante, ou seja, será aquilo que representa alguém específico, o que diz de uma pessoa.

Para ilustrarmos melhor a questão, recorreremos ao primeiro seminário de Lacan (1953-54), onde ele faz os seguintes questionamentos: O que há num nome? O que é um nome? Para que serve? O que fazemos com ele e o que podemos fazer com ele numa análise?

Diante de todos esses questionamentos de Lacan não há como negar que além de buscar um sentido, ele coloca em cena a questão do significante, ou seja, o que representa o sujeito para outro significante. Atrelado a isso nos deparamos com outra questão extremamente importante, a saber, da identificação do sujeito com o nome que lhe foi ofertado e como será realizado o investimento em seu próprio nome. Partindo do pressuposto que somos constituídos subjetivamente pelo Outro primordial que, por sua vez, também ocupa o lugar de representante da cultura local. Nesse caso, não fugiríamos desse princípio fundante que é a cultura. Portanto, a identificação do indivíduo com o seu nome próprio dependeria do aval da cultura para que possa se sentir bem ou mal quando seu nome for pronunciado por alguém. Isso acontecerá em pleno convívio escolar.  

O nome próprio ao designar um indivíduo faz com que ele seja introduzido no reino hominal e, portanto, no mundo da linguística, do significante e do pensamento lógico mais complexo. É por ter a capacidade pensante e a necessidade de ser aceito na sociedade que o indivíduo ao se esbarrar em um nome que para si mesmo não o representa, não diz o que ele é, instala-se o conflito e o desagrado por ter esse nome. O poder da representatividade do nome próprio pode fortalecer o elo do indivíduo com o seu meio ou frustá-lo, haja vista em uma chamada presencial da escola que poderá ser alvo de chacotas.

A representatividade do nome próprio como significante que representa o sujeito para outro significante é, sobretudo, uma marca, uma insígnia que os pais colocaram no filho. Portanto, possui muito do aspecto da historia de vida desse sujeito. Partido desse princípio, o que dizer quando os pais colocam o mesmo nome de um filho que já morreu em outro filho? Fica lógico que o desejo desses pais é de tamponar o vazio, a falta que o outro filho faz. Agora, a pergunta que nós fazemos é: será justo com o outro filho já começar a vida, morto? Que lugar essa criança ocupa para os pais? É natural nesses casos existir comparações e o desejo inconsciente de moldar o filho ao outro que morreu. Então, fazemos mais um questionamento: onde fica a singularidade dessa criança? A falta de uma singularidade deixará esse indivíduo levitando, ou seja, sem uma base que o sustente, uma base formadora de seu próprio Eu como sujeito singular, a não ser que ele tenha forças para dizer aos pais: “esse que vocês pensam que eu sou é o meu irmão que morreu, eu não sou assim!”.     

Como já mencionei antes, a escolha do nome próprio é uma tarefa difícil, mas também não é nenhuma coisa do outro mundo, mas requer ponderação dos pais ao escolher o nome de seus filhos, pois tal escolha irá representá-los para o resto de suas vidas.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.






quinta-feira, 15 de agosto de 2013

TAMANHO E APARÊNCIA DO RECÉM-NASCIDO


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O período neonatal representa as primeiras quatro semanas de vida do bebê e é considerado um período de transição do útero para a vida fora dele, no qual a criança está inteiramente entregue aos cuidados e amor da mãe. Em média uma criança brasileira pesa ao nascer cerca de 3.300 kg com altura aproximada de 50 cm, se menino; e menina, 3.200 kg com altura de 48 cm. Os meninos tendem a ser ligeiramente mais pesados e maiores do que as meninas. Por sua vez, os primogênitos pesarão menos do que os seus irmãos que nascerem depois.

Nos primeiros dias de vida, os neonatos geralmente perdem 10% de seu peso, tendo como causa principal a perda de fluidos. No entanto, não deve ser motivo de preocuação para as mães, pois eles começarão a ganhar peso em torno do quinto dia, recuperando, assim, o peso que tinham ao nascer por volta do décimo ao décimo quarto dias.

Bebês recém-nascidos possuem características distintivas que abrange uma cabeça grande, geralmente um quarto do comprimento do corpo, e um queixo recuado que é um grande facilitador para a amamentação. Logo no começo de vida a cabeça do neonato poderá ser alongada e malformada, tendo como causa a “modelagem” que facilitou sua passagem pela pélvis da mãe. Essa possibilidade da cabeça se moldar temporariamente só é possível porque os ossos do crânio do bebê ainda não se fundiram, ocorrendo à união por completo por volta dos 18 meses. As regiões da cabeça onde os ossos ainda não se fundiram possui um tecido macio que será coberto por uma membrana rígida, a fim de proteger um pouco a cabeça do bebê.

Muitos recém-nascidos possuem uma aparência rosada e sua pele é extremamente fina que quase não esconde os capilares onde o sangue circula. Também, durante os primeiros dias de vida, alguns recém-nascidos são muito peludos por causa de uma parte da lanugem, uma felpuda penugem pré-natal  que ainda não ter caído.

Todos os recém-nascidos estão cobertos por uma proteção gordurosa contra infecções denominada de vernix caseosa que ressecará nos primeiros dias de vida.


* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O RELACIONAMENTO DO OBJETO TRANSICIONAL COM O OBJETO INTERNO



* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O objeto transicional conduz o bebê para o mundo externo e, consequentemente, para o simbólico, promovendo uma nova etapa em seu desenvolvimento. No entanto, para que isso ocorra é necessário que exista uma boa relação do objeto interno e o objeto transicional. Dito de outra forma, o objeto transicional só estará presente na vida do bebê quando o objeto interno for vivo e o suficientemente bom – mãe suficientemente boa –. Mas o objeto interno depende para ter essas características da existência – esta mãe tem que está presente –, da vitalidade e do comportamento externo, ou seja, do seio, da figura da mãe e de seus cuidados e do ambiente de uma forma geral. 

Caso exista alguma falha em alguns desses pontos ou se não for o suficientemente bom para o bebê, segundo Klein, provocará no bebê um caráter persecutório do objeto interno.  Ocorrendo uma falha  prolongada do objeto externo fará com que o objeto interno venha perder o sentido para a criança e, consequentemente, o objeto transicional também. Um exemplo possível de acontecer é quando a mãe por qualquer choro da criança logo pensa que é fome e segue para amamentar o bebê. Esse choro pode ter uma motivação de outra ordem, por exemplo, de alguma cólica que ele esteja sentindo. O peito da mãe será associado ao mal-estar da cólica, criando consequências posteriores para a alimentação da criança. Klein nos diz que, o objeto transicional pode representar o seio ‘externo’, mas de modo indireto, pelo fato de representar um seio ‘interno’.

Segundo Freud (1856-1939), não existe qualquer possibilidade de que o bebê progrida do princípio do prazer para o princípio de realidade ou para além da identificação primária a não ser que exista uma mãe suficientemente boa. A mãe não é necessariamente a mãe biológica do bebê, mas quem ocupe e exerça essa função.

A mãe suficientemente boa é aquela que faz uma adaptação ativa às necessidades do bebê e que, gradualmente vai diminuindo de acordo com o desenvolvimento e capacitação do bebê de suportar as falhas na adaptação e por sua vez de tolerar algumas frustrações. 

O bebê vai lidar com as falhas da mãe por meio de algumas experiências vividas. Conforme Winnicott, através de experiências repetitivas de que a frustração tem um limite de tempo, salientando que no início esse limite dever bem curto; a memória, a revivescência, o devaneio, o sonho; a integração entre passado, presente e futuro.

No início da adaptação a mãe deve compreender que esta deve ser quase perfeita, como diz Winnicott, não sendo assim não será possível para o bebê começar a desenvolver a capacidade de fazer a liga com o mundo externo, ou seja, de se relacionar com a realidade externa.   

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


sábado, 10 de agosto de 2013

O FETO E A VIDA INTRA-UTERINA


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O feto no período de tempo em que permanece no útero materno desenvolve várias atividades, demonstrando claramente que mesmo antes de nascer já possui vigor para realizar algumas ações. O feto realiza ações como a de chutar, virar-se, flexionar o corpo, movimentar os olhos, cerrar os punhos, soluça, suga os polegares entre outras.  Isso é possível devido às membranas flexíveis das paredes uterinas e do saco amniótico, as quais envolvem o anteparo protetor do líquido amniótico. Com isso, permitem e até mesmo estimulam movimentos limitados. Foi observado em  estudo que os fetos reagem ao estresse da gravidez da mãe, existindo uma co-ligação dessa resposta a uma variação do ritmo cardíaco do feto que pode apresentar ritmos cardíacos mais lentos, porém mais variáveis. No entanto a partir de seu crescimento os movimentos vão ficando mais restritos devido à diminuição do espaço. Entre a 28ª e a 32ª semanas acontecerá um grande e significativo salto em todos os aspectos do desenvolvimento fetal.

Provavelmente muitas pessoas acreditam que exista um comportamento padrão para todos os fetos, mas isso não condiz com a realidade. Movimentos e nível de atividade dos fetos são diferentes, mostrando diferenças individuais bem claras com ritmos cardíacos que variam em regularidade e velocidade. Os fetos masculinos são mais ativos e tendem a se movimentar com mais vigor do que os femininos ao longo de toda a gestação, independentemente de tamanho. A isto, podemos considerar que a tendência dos meninos serem mais ativos do que as meninas poderia ter uma causa inata.  

Aproximadamente por volta da 12ª semana de gestação, o feto engole e inala parte do líquido amniótico em que ele flutua. O líquido amniótico possui substâncias que atravessaram a placenta que vieram da corrente sanguínea da mãe e entram na corrente sanguínea do feto. Talvez seja através do compartilhamento dessas substâncias que se estimulem os sentidos do paladar e do olfato, que começam a surgir no feto, contribuindo também, provavelmente, para o desenvolvimento de órgãos necessários para a respiração e para digestão. Antes mesmo do nascimento o feto já possui o sistema olfativo que controla o sentido do olfato bem desenvolvido.

Outro aspecto da atividade do feto e que se mostra assim quando a criança nasce é o de parecer lembrar-se de sons, músicas e, sobretudo, da voz de sua mãe. Uma experiência realizada com bebês de três meses de vida apresentou o seguinte quadro: os bebês que ao chuparem as chupetas uma gravação era acionada com uma história que as mães haviam lido em voz alta durante os últimos seis meses de gravidez, sugaram mais as chupetas do que os bebês que as mães não haviam recitado nenhuma história antes do nascimento. Um experimento similar foi realizado com bebês recém-nascidos de dois a quatro dias e assinalou uma preferência para sequências musicais e verbais ouvidas antes do nascimento. Eles também preferem a voz materna à de outras mulheres, vozes femininas a masculinas e a língua natal da mãe à outra. A constatação da preferência do feto à voz da mãe foi fundamentada ao descobrir que, quando a mãe lia uma história o ritmo cardíaco do feto logo aumentava e se fosse uma estranha que lesse o ritmo diminuiria.


* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.