terça-feira, 30 de julho de 2013

OBJETO TRANSICIONAL, O OBJETO QUE FAZ LIGA AO MUNDO EXTERNO


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O bebê se encontra inteiramente dependente de sua mãe para realizar suas necessidades, e será através dela, ou seja, desse Outro primordial ou de quem ocupe este lugar que a criança construirá sua integração como unidade. Na medida em que a integração do infante vai se tornando mais consistente, seu amadurecimento exigirá algo do mundo externo que se faça presente e se misture a sua onipotência, ou seja, um objeto transicional que cumprirá também o papel de indicar o simbólico, um instrumento que possibilita a travessia do bebê desde a sua subjetividade até a objetividade, abrindo, assim, o leque de suas experimentações. Em outras palavras, o objeto transicional é um instrumento que conduz o bebê rumo a um Não-eu que ele sentirá como externo, provocando sua primeira experiência de posse sem ser a do seio materno, mesmo porque para o bebê nessa fase seu corpo se confunde com o corpo da mãe sendo um só corpo.

Segundo Winnicott, o objeto transicional é eleito pelo bebê por volta dos 4-6-8-12 meses de idade, e a capacidade de adotá-lo denota que o andamento de seu desenvolvimento está em curso. A partir daí observam-se algumas mudanças e a principal delas é a de que o bebê está passando de uma dependência absoluta para uma dependência relativa, preparando terreno para o estágio do concernimento. Neste estágio a integração do ego já atingiu um grau em que o indivíduo pode perceber a personalidade da figura materna, tendo como consequência o sentimento de concernimento quanto aos resultados de suas experiências instintivas, tanto físicas quanto ideativas, ou seja, o estágio de concernimento traz a capacidade para a criança de sentir culpa.

O bebê que está passando de uma dependência para outra pode se tornar consciente da necessidade dos detalhes do cuidado maternal e relacioná-los, numa dimensão crescente, a impulsos pessoais.

Os objetos transicionais exercem a função de amparo ao substituírem a mãe, e é quase uma parte inseparável da criança, marcando o início da quebra da unidade mãe-bebê. Winnicott salientou três realizações fundamentais relativas a  progressão da dependência absoluta para a dependência relativa, são elas: a integração, a personificação e o início das relações objetivas.

É na fase da dependência relativa que o bebê vai experienciar estados de integração e não integração, formar conceitos de Eu e Não-eu – mundo interno e interno – e o amadurecimento necessário para o estágio de concernimento. Winnicott também chamou a fase da dependência relativa de rumo à independência, e é justamente isso que essas fases representam, o fomento de proporcionar a  independência da criança frente à sua mãe. O bebê vai desenvolver meios para prescindir dos cuidados da mãe, ou seja, não será tão dependente quanto antes. Mas isso só ocorrerá caso exista nitidamente para o bebê a memória dos cuidados que a mãe teve com ele, da projeção das necessidades pessoais com a introjeção do cuidado maternal e com o desenvolvimento da confiança no ambiente. 

Os objetos transicionais pode ser um pano que esteja próximo ao bebê, o lençol, a chupeta, um boneco ou boneca, e outros. Conforme Winnicott, quando o bebê passa a usar sons organizados (mmmm, tá, dá), pode aparecer uma ‘palavra’ para o objeto transicional. O nome dado pelo bebê para esses objetos iniciais é frequentemente significativo, e normalmente traz incorporada a parte de uma palavra usada pelos adultos. Por exemplo, o nome pode ser ‘Baa”, o ‘b” sendo parte da palavra ‘bebê’.

Winnicott faz uma observação que provavelmente irá afetar muitas mães com  traço obsessivo por limpeza. No entendimento de Winnicott, a mãe não deve lavar o pano ou lençol ou qualquer que seja o objeto transicional, deixando até mesmo ficar malcheiroso. O autor argumenta que se o objeto for lavado haverá uma ruptura na experiência do bebê, uma quebra que poderá destruir o valor e o significado do objeto. E para o caso de querer trocar o objeto por outro igual não adianta, pois por mais que seja idêntico não produzirá o mesmo efeito. Outra importante função do objeto transicional é o de ajudar no desmame já que aos poucos vai existindo o descolamento mãe-bebê.   

O destino do objeto transicional é que gradualmente vá sendo descatexizado, de modo que no decorrer dos anos ele se torne relegado ao limbo. Não quer dizer que o objeto transicional seja esquecido pelo indivíduo e nem tampouco que exista a vivência de um luto, mas simplesmente ele perde o sentido de antes para se tornar fenômenos transicionais difusos que irão responder pela realidade psíquica e o mundo externo de modo bem mais complexo do que antes e bem mais amplo, sejam bem-vidos a fases mais maduras do ser humano.

 * Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

CEGUEIRA ESPECULAR E SURDEZ SIGNIFICANTE


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A cegueira especular corresponde a um estado de opacidade do olhar da mãe para com seu bebê, em outras palavras, é o olhar que não exprime desejo, afeto, amor. Um olhar que não obedece ao funcionamento do espelho não produzindo a instauração do registro imaginário. A opacidade ou turvação desse olhar poderá levar a sérias consequências para o bebê, inclusive o autismo. Freud compreendia que “o olho que vê também tem prazer”. Lacan também compartilhava do mesmo entendimento chegando a criar sua própria teoria sobre a questão, a saber, o estádio do espelho, ou seja, o eu se constitui a partir do “a” como função da imagem especular, isto é, através do imaginário, confirmado pelo olhar do Outro. Em sua teoria ele estabeleceu uma condição a mais para o olhar, a de pulsão escópica. O que ele queria dizer com isso? Que a satisfação pulsional inerente ao olhar está diretamente ligada ao objeto desse olhar, desse desejo, ou seja, o objeto alvo da intencionalidade do querer da mãe. O bebê deve ser aos olhos da mãe um objeto perceptível, portanto, o objeto alvo da intencionalidade desse querer.

Freud estabelece uma relação entre pulsão escópica com a pulsão oral ao afirmar que os olhos possuem a mesma função que a boca, ou seja, a visão e o olhar são tão importantes quanto à alimentação e o beijo. Já, Lacan, aproxima as duas pulsões, escópica e invocante, e diz que a partir de um comportamento satisfatório na relação mãe-bebê é que se constitui o circuito pulsional do infante. Trocando em miúdos tanto o olhar desejante como a fala de uma invocação que pressupõe uma alteridade, ou seja, uma possibilidade que faz o bebê vir a ser. Freud colocou a visão em um lugar de destaque entre os sentidos, chegando aventar a possibilidade de ter ocorrido um recalque orgânico do olfato, assim que o homem adquiriu a postura ereta, deixando-o neste aspecto numa posição inferior aos demais seres da raça animal. Segundo ele, a postura ereta desencadeou um natural afastamento entre os órgãos sexuais e os olfativos. Com isso, o olfato perde sua função de mediador das trocas sexuais entre os homens e a visão passa a ocupar este lugar.

A mãe ao ouvir o choramingado do bebê e nomeá-lo a uma necessidade pulsional do filho, necessidade que ela atribui que ele esteja sentindo naquela hora, sendo este um momento de mal-estar para o bebê, ela está introduzindo o mesmo na linguagem através de seu enunciado. Em poucas palavras podemos dizer que ela está cumprindo o seu papel em alienar o filho ao seu desejo materno. A criança é colocada pela mãe numa posição de objeto e essa alienação que a criança sofre em relação a mãe nada mais é do que um traço de identificação com seu outro primordial.

A partir do que já foi exposto acredito já poderíamos compreender o que deve representar o olhar materno para seu filho e, também, diferenciá-lo de um simples enxergar o filho que anda bem longe de uma lógica especular.  Agora, o que representa a surdez significante de uma mãe? Voltemos para o choramingado do bebê. Uma mãe suficientemente boa ao ouvir seu bebê chorando irá logo nomear aquele choro a alguma necessidade pulsional como fome, sono ou cólica. A mãe que possui a surdez do qual me refiro escuta o choro da criança e se aborrece com ele, pois o choro para ela é apenas barulho, deixando a mãe extremamente irritada. Tal comportamento impede que exista a relação especular entre mãe-bebê e a nomeação de uma cadeia de significantes favorável para o bebê.  

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

O DESEJO DE SER MÃE: DA INFÂNCIA À CONCEPÇÃO

Foto/fonte: http://www.bbel.com.br/qualidade-de-vida/post/dicas-de-como-perder-peso-posparto.aspx

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A relação mãe-bebê se inicia muito antes da concepção da criança, podemos dizer que de forma inconsciente seu surgimento acontece ainda quando criança, quando essa mulher ainda brincava de boneca e casinha. Esses dois significantes  irão se inscrever na mulher para o resto de sua vida. A criança naturalmente investe o seu afeto no objeto boneca que como dizemos é um forte representante psíquico, e a forma de como ela se relaciona e mesmo o afeto que é investido nesse objeto está muito ligado à dinâmica edipiana que ela vivencia. Segundo Freud, a menina nessa fase fantasia ter um filho do pai.

Esse fantasiar é fruto de seu apaixonamento e identificação com o pai que está na figura do primeiro significante masculino para ela. Este é o período onde a menina vê a mãe como uma rival, colocando-se entre o casal na busca de ser o centro das atenções para o pai. Suas tentativas serão infrutíferas e ao perceber que o lugar que ela tanto deseja já está ocupado pela mãe, mulher de seu pai, objeto amado e desejado por ele, a menina para ter então o amor do pai identifica-se e alia-se a mãe para então ocupar o mesmo lugar para o seu futuro marido ou companheiro, ou seja, irá atrás daquele que tem o falo, a saber, o substituto paterno. A isso Freud denominou de “resolução edípica” e Lacan de “normatização edípica”. Portanto, o desejo de uma mulher por um homem com quem possa ter filhos, representa o investimento de amor objetal que é marcado pela diferença sexual que teve seu primeiro registro na fase edípica.  

O que aos poucos vai se delineando para a menina com os cuidados que tem com sua boneca é o sentimento de maternidade que poderá ser consolidado quando for uma mulher. Quando uma menina diz para uma coleguinha em alto bom som: “Não, essa boneca é minha!”. Ela não está apenas exercendo o seu sentimento de posse, mas exercendo o seu sentimento de posse por um objeto afetivo que possui uma enorme representação como já vimos. Esse sentimento de posse que surgiu  pelo investimento libidinal realizado pela menina através dos cuidados e mimos contribuirá quando for uma mulher para a seguinte certeza: ter filhos não é o mesmo de ser mãe.

O processo de transformação psíquica que a mulher passa em sua gestação envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas, diferente para cada sujeito, que são a transformação de filha para mãe, a da autoimagem corporal e a relação entre sexualidade e maternidade. A cada um desses momentos requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. Somando a esses aspectos, também incluímos uma recapitulação que a gestante faz de sua vida. Nesse momento situações familiares prazerosas ou não poderão retornar no psicológico da mulher, sobretudo, a sua relação com os pais, seus primeiros significantes na vida. Ter sido uma criança desejada e amada e ter passado pelo edípo de forma serena sem maiores conflitos é de suma importância para a futura mãe reverter esses significantes para o bebê que está por vir. Seu desejo pela maternidade que já foi fundado ainda quando criança, o conforto e a segurança de seu marido ou companheiro e um ambiente externo acolhedor, apaziguará a tensão natural de um trabalho de parto, com uma única certeza depois que a criança nascer e a tensão acabar, a mãe olhará para o seu filho e sorrirá, dizendo: “Essa criança é meu filho, fruto de meu desejo!” Coisa que no passado ela dizia: “Não, essa boneca é minha!”.


* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

DEPRESSÃO PÓS-CASAMENTO

Foto/fonte: http://amandicaindica.blogspot.com.br/2011/12/dpc-depressao-pos-casamento-do-rechaud.html

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Os preparativos relacionados à cerimônia, o vestido de noiva, a festa, o sentimento que envolve o casal, o desejo de sair da casa dos pais e ter sua própria casa e ‘independência’, os sonhos e planos para o futuro entre eles os de ter filhos e a lua-de-mel, representa um momento cheio de expectativas e ansiedades para o casal, um momento mágico que se iguala a de um conto de fadas. No entanto todo esse festim esconde ou, melhor dizendo, passa despercebida a dependência emocional que ainda se tem em relação aos pais, sobretudo, da mãe, por ainda não ter acontecido o necessário “desmame” entre um dos parceiros ou mesmo de ambos, a todas as facilidades, conforto e mimos que mamãe e papai davam.

O casal ao retornar da lua-de-mel depara-se com uma estranha sensação de que todo aquele momento mágico que mobilizou o casal para um único objetivo, a saber, o casamento, acabou. Momento esse que a fantasia dos preparativos se finda e a realidade do casamento e de uma vida a dois se apresenta, demandando um novo objetivo e um bom projeto de vida. Essa sensação de estranheza pode deixar o casal por algum momento numa certa condição flutuante, fazendo emergir a seguinte pergunta: “E agora, o que fazer?”

O casamento ou uma vida co-relacionada à de casado exige um pensar no plural sem que seja restringida a singularidade de cada parceiro e uma co-responsabilidade dos atos. No entanto, o que se observa em muitos casos é que, um dos parceiros ou mesmo os dois buscam a mesma dinâmica de liberdade que tinham quanto solteiros, focando o que melhor lhe apraz, o desejo e a satisfação próprios, individualizados, ou seja, vive-se uma relação que ao invés de ser compartilhada a dois, é uma relação extremamente narcisista.

Os primeiros dias, meses e anos de uma vida a dois se constituem em  uma fase de apresentação e muito diálogo, flexibilidade e adaptação, sobretudo, de co-responsabilidades. Será nessa fase que se experimenta a tolerância em relação a comportamentos que não se apresentavam tão nitidamente no namoro; ou porque o período de convivência não permitiu, ou porque estavam encobertos pela venda da paixão. Será nesse período que deverá existir a confluência dos Eu’s, ou, seja, um Eu menos individual e narcisista cede lugar para um projeto de vida a dois. A intolerância representa justamente o contrário, assinalando para um indivíduo preso a um narcisismo primário e despreparado emocional para uma convivência do porte.

A mulher que se casa não deixa de ser filha, mas o lugar que antes ela ocupava não é mais o mesmo, ou seja, ela não se encontra mais ocupando o berço esplêndido da mamãe e nem do papai. Tal condição também se remete ao homem. Quando se casa de certa forma se vive o luto da fase de solteiro e daquela identidade para celebrar a fase que se inicia. A mulher ao sair da casa do pai deixa de ser a filha e a irmã para ser a esposa do marido; já o homem passa a ser marido, compartilhando com a mulher as demandas dessa nova vida. Trocando em miúdos, as facilidades e o conforto que encontravam na casa dos pais devem se tornar boas recordações de uma época que acabou, pois a nova realidade requer uma demanda de construção e crescimento a dois. Dentre a demanda de construção está a manutenção do amor, que precisa do cultivo e da compreensão, da atenção e disponibilidade recíproca.

Quero chamar atenção para um aspecto que pode decorrer de uma forte expectativa por parte de um parceiro em relação ao outro. Excesso de expectativa pode sinalizar para uma condição de dependência emocional. A carência por parte de um dos parceiros aumenta a tendência de uma baixa autoestima, podendo levar a comportamentos de insegurança, de imaturidade ou de egoísmo que geram cobranças, brigas e desgaste logo no início da relação. A quebra daquilo do que se esperava no parceiro provoca uma frustração que reaviva a carência pela qual a pessoa foi marcada na dinâmica edipiana, podendo levá-la a um estado de tristeza persistente, ou seja, a uma depressão. O que antes era um sonho se esbarra na realidade e no desencanto.  

A depressão nos primeiros dias de casado é consequência de vários fatores dentre eles o emocional e o psicológico, podendo atingir homens como mulheres a depender do perfil da personalidade de cada um e da intensidade de idealização e expectativas que se tem do casamento. Mas ao salientar o aspecto histórico e cultural de nossa sociedade, a depressão pós-casamento torna-se mais uma realidade do público feminino do que do masculino, isso porque, mesmo que se escute por parte das mulheres um discurso de não querer nada a sério e da prática do ficar sem compromisso, no íntimo elas ainda sonham com seus príncipes encantados – síndrome de cinderela – e esperam que tudo seja maravilhoso, por isso elas acabam sofrendo mais quando algo não está da forma que sempre imaginaram.  
Os fatores externos como o econômico e o social também são observados, como por exemplo, intensas atividades profissionais que exijam muitas horas longe de casa e do parceiro, contribuindo para a solidão do outro e dificuldade financeira que atravessa o casal. No entanto, não adentraremos em tais perspectivas.  

Segundo pesquisas, o número de mulheres que se casaram recentemente e que estão sofrendo de depressão pós-nupcial é cada vez maior. Relatos como sentimentos de tristeza, remorso, frustração, desapontamento e vazio é cada vez mais comum. Em contrapartida, existe o discurso da estranheza de se viver tais sentimentos já que se concretizou o sonho de se casar com a pessoa amada depois de tantos planejamentos.

Casar ou compartilhar de uma relação a dois debaixo do mesmo teto, sobretudo, quando esta é a primeira experiência do gênero, não é nada fácil nem para a mulher e nem para o homem. A etiologia da palavra “Compartilhar”  compreende: “dividir com”; “partilhar com”; “distribuir”, “repartir ou compartir”. Portanto, é isso que os recém-casados devem fazer, ou seja, estreitar ao máximo o diálogo na tomada de qualquer decisão e comportamento. A intimidade entre os parceiros deve ser sempre estreita, a demarcação dos limites respeitada e o amor sempre cultivado. Tais providências poderão evitar  precipitações e intransigências que levem ao desgaste da relação e que venha debilitar emocionalmente o casal. Conhecer bem o outro pode amenizar os problemas que surjam na convivência a dois.

O casamento não é a morte dos sonhos, mas um sonho sonhado a dois que não está isento dos percalços da vida, pois até nos sonhos noturnos esse ou aquele sonho pode deixar alguma lembrança angustiante para o indivíduo.   

A depressão pós-casamento não chega a ser de fato uma doença, pois na maioria das vezes representa apenas o choque inicial ou uma tristeza ao se deparar com uma realidade nova que representa a vida de casado e, consequentemente, não saber lidar com essa nova situação. No entanto, a persistência de um quadro de desânimo, triste o tempo todo, falta de apetite, desânimo para sair de casa e insônia ou sonolência demais, esse tipo de comportamento corresponde a um quadro de depressão. Agora, o que deve ficar claro, não existindo nenhum outro fator em jogo, como por exemplo, um marido torturador ou coisa do tipo, ou um ambiente familiar ou externo inóspito, o simples fato de casar não provoca depressão, mas se caso aconteça é porque já existia uma predisposição, um antecedente para tal.   

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


domingo, 21 de julho de 2013

DEPRESSÃO, UMA DOENÇA DO HUMOR

Foto/fonte: http://noticias.r7.com/saude/noticias/ate-2020-a-depressao-sera-a-doenca-mais-incapacitante-do-mundo-diz-oms-20100130.html

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A depressão não é uma doença dos dias de hoje, documentos antigos registram casos de distúrbios do humor desde a antiguidade. No Antigo Testamento, encontramos a história da síndrome depressiva do Rei Saul, a história do suicídio de Ajax, na Ilíada de Homero. Ao redor do ano 30, Aulus Cornelius Celsus descreveu a melancolia em seu trabalho “De re medicina” como uma depressão causada pela bílis negra. Já na idade média, a Medicina permaneceu ativa nos países islâmicos e em "Rhazes", Avicena, o médico judeu Maimonides considerava a melancolia como uma entidade patológica discreta. Grandes artistas do passado também quiseram esboçar o que achavam da melancolia. Em 1686, Bonet descreveu uma doença mental que chamou de "maníaco-melancholicus". Jules Falret, em 1854, descreveu uma condição chamada "folie circulaire", na qual o indivíduo experimentava humores alternados de mania e depressão. Jules Baillarger (psiquiatra) descreveu a condição "folie à double forme", na qual o indivíduo tornava-se deprimido e ficava num estado de estupor do qual eventualmente se recuperava. Em 1882, Karl Kahlbaum (psiquiatra) usou o termo ciclotimia, descreveu a mania e depressão como estágios da mesma doença. Em 1896, Emil Kraepelin, descreveu o conceito de psicose maníaco-depressiva.

Como acabamos de ver, em uma breve retrospectiva, não é de hoje que a depressão se faz presente entre os Homens. Não é raro ouvirmos relatos de parentes, pessoas amigas ou, mais próximas, dizerem que se encontram depressivos e sem motivação para a vida. A depressão, já há algum tempo, inspira preocupação por parte da saúde pública mundial, devido ao grande aumento dos casos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que a depressão está entre as principais causas que contribuem para a incapacitação de uma pessoa e que, já atinge um alarmante quadro de 121 milhões de pessoas ao redor do mundo. Infelizmente, pelo que prevê a OMS, as projeções não são nada animadoras, e daqui para o ano de 2020, a depressão será a segunda maior causa de incapacitação e perda da qualidade de vida de um indivíduo, estando abaixo, apenas, das doenças cardiovasculares. Atualmente, ela ocupa a quarta posição.

No Brasil, estima-se que cerca de 17 milhões de pessoas tenham depressão, levantamento feito pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). No ano de 2008, de acordo com dados do Ministério da Previdência Social, 91.551 trabalhadores foram afastados de suas atividades profissionais por causa da depressão, sendo que, 5.989 estão afastados do trabalho e a causa geradora da depressão, ligada ao próprio ofício, e 85.562 a causa não teria ligação direta com o trabalho exercido. Como já disse no início desse artigo, ouve-se muito dizer que “A” ou “B” está com depressão; algumas, de fato, estão, mas outras, simplesmente encontram-se tristes, e que este estado de humor é momentâneo e sem maiores consequências.

A depressão é um rebaixamento do humor com um estado mental mórbido, apresentando uma série de alterações do comportamento, do tipo: abatimento; afastamento do convívio social; isolamento, passando o maior tempo do dia no quarto fechado e às escuras; perda do interesse nas atividades que antes dava prazer, como as atividades profissionais, acadêmicas e artísticas que praticava; perda de interesse nas relações interpessoais; sentimento de culpa ou autodepreciação, gerando, também, a baixa auto-estima; desesperança; falta de apetite; sono alterado; dificuldade de concentração, fadiga corporal e sensação de fraqueza geral e em alguns casos, desejo de morrer ou de tirar a própria vida. Vale aqui ressaltar que, existem casos das depressões sazonais que ocorrem em particular no período do inverno, mais conhecidos como Desordem Afetiva de Estação (Seasonal Affective Disorder – S.A.D.).

A visão que o deprimido tem do mundo será o espelho de seu estado de humor, portanto, a forma que o indivíduo vê o mundo e a vida será completamente desesperançosa, sem brilho e sem qualquer tipo de motivação sadia e renovadora.


Tipos de depressão: Depressão maior; Depressão crônica (distimia); Depressão atípica; Depressão pós-parto; Distúrbio afetivo sazonal (DAS), Tensão pré-menstrual (TPM) e Pesar.


Depressão Maior: São 5 (cinco) os sintomas que se apresentam nesse tipo de depressão e que perduram, no mínimo, de duas semanas. São eles: desânimo na maioria dos dias e na maior parte do dia (em adolescentes e crianças há um predomínio da irritabilidade); falta de prazer nas atividades diárias; perda do apetite e/ou diminuição do peso; distúrbios do sono — desde insônia até sono excessivo — durante quase todo o dia; sensação de agitação ou languidez intensa; fadiga constante; sentimento de culpa constante; dificuldade de concentração e idéias recorrentes de suicídio ou morte.

Depressão Crônica (distimia): Esse tipo de depressão também possui vários sintomas presentes na depressão maior, porém com menos intensidade, entretanto, tendo um período maior de tempo, pelo menos de 2 (dois) anos. É descrita como uma leve tristeza que se estende silenciosamente na maioria das atividades da pessoa. De uma forma geral, não acarreta distúrbios no apetite ou no desejo sexual, mania, agitação ou comportamento sedentário. A proporção de casos de suicídios neste tipo de depressão é a mesma dos deprimidos graves. Provavelmente devido à duração dos sintomas, os pacientes com depressão crônica não apresentam grandes alterações no humor ou nas atividades diárias, apesar de se sentirem mais desanimados e desesperançosos, e serem também mais pessimistas. Os pacientes crônicos podem sofrer episódios de depressão maior, tipo já descrito anteriormente, criando, assim, um quadro de depressão dupla.

Depressão Atípica: Este tipo faz com que as pessoas comam muito, durmam muito e sintam-se enfadadas, apresentando, ainda, um forte sentimento de rejeição.

Depressão pós-parto: Como o próprio nome já está dizendo, surge após o parto, provavelmente deve-se a perturbações e alterações do foro emocional e/ou hormonal da mulher, uma vez que o corpo sofre demasiadas alterações com o nascimento da criança. É verificado, também, nesses casos, desconfortos e sensações de dores nas costas, que podem agravar o estado emocional e hormonal da mulher. Como nos casos de partos naturais a bacia sofre alterações para o nascimento da criança, como a nível da coluna, atribui-se a esse particular uma das origens da depressão pós-parto, a causa física.

Distúrbio afetivo sazonal (DAS): Este tipo caracteriza-se por episódios anuais de depressão, ocorrendo mais durante o outono ou o inverno, podendo desaparecer na primavera ou no verão, quando então tendem a apresentar uma fase maníaca. Incluem sintomas como fadiga, tendência a comer muito doce e dormir demais no inverno, mas uma minoria come menos do que o costume e sofre de insônia.

Tensão pré-menstrual (TPM): Nesse período em que se encontra a mulher, é verificada uma depressão acentuada, acompanhada de uma grande irritabilidade e tensão antes da menstruação, afetando entre 3% e 8% das mulheres em idade fértil. O diagnóstico baseia-se na presença de, pelo menos, 5 dos sintomas descritos no quadro da depressão maior na maioria dos ciclos menstruais, ocorrendo uma piora dos sintomas uma semana antes da chegada do fluxo menstrual, melhorando logo após a passagem da menstruação.

Pesar: O pesar, também conhecido como reação de luto, não é propriamente dito um tipo de depressão, mas possuem muito em comum. O pesar, em sua significação, é uma resposta emocional saudável e importante, quando se lida com perdas. Normalmente, possui um período agudo que, com o tempo, vai cedendo. Nas pessoas sem outros distúrbios emocionais, o sentimento de aflição dura entre três e seis meses. A pessoa passa por uma sucessão de emoções que incluem choque e negação, solidão, desespero, alienação social e raiva. O período de recuperação consome outros 3 a 6 meses. Após esse tempo, se o sentimento de pesar ainda é muito intenso, ele pode afetar a saúde da pessoa ou predispô-la ao desenvolvimento de uma depressão propriamente dita.

Depressão Secundária a Doenças Orgânicas: acidente vascular cerebral ("Derrame"), tumor cerebral, doenças da tireóide, etc.

Depressão Endógena: por deficiência de neurotransmissores. Exs.: depressão do velho, depressão familiar e psicose maníaco-depressiva.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

A DROGA CIBERNÉTICA

Fonte: http://www.culturamix.com/tecnologia/como-funciona-a-dependencia-de-computador

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Desde a chegada do primeiro computador no Brasil, um Univac-120, da Sperry, importado pelo Governo de São Paulo no ano de 1957, que ocupou um andar inteiro do prédio onde foi instalado, até os dias atuais com os preciosos e versáteis microcomputadores, notebooks, tablets, apples e a somar a esse mundo digital, a internet, o nosso país adentrou no que antes era considerado, apenas, o futuro de uma Era tecnológica. Ao ingressar nesse mundo tecnológico, o Brasil absorveu uma cultura globalizante que se chama Cultura Cibernética, que igual a qualquer outra cultura possui suas peculiaridades.

Cada vez mais todas essas ferramentas vêm ocupando um importante espaço no cotidiano das pessoas, seja em passar um e-mail, fazer alguma pesquisa, realizar alguma compra, verificar um extrato bancário, ler um noticiário, enfim, sejam quais forem os nossos hábitos já estão atrelados à cultura cibernética. O móbil de todas essas ferramentas tem como propósito facilitar as nossas vidas nos mais variados setores. Entretanto, como tudo na vida requer sensatez e equilíbrio, o uso abusivo e frenético de tais ferramentas irá sinalizar uma sintomatologia patológica ou, seja, uma compulsão por jogos e pela própria internet.

Tanto para a psiquiatria como para a psicologia e psicanálise a dependência da internet (DI) é um conceito recente e que é caracterizado pela incapacidade de controlar o próprio uso da Internet, sobretudo, o de ficar uma grande quantidade de horas jogando pelo computador. Essa prática ocasiona um intenso sofrimento psíquico para a pessoa e somado a isso, vários outros prejuízos significativos na vida do indivíduo.

Os chamados jogos interativos que são mais procurados por crianças, adolescentes e jovens adultos já contam com mais de 11 milhões de jogadores inscritos em todo o mundo, como é o caso do World of Warcraf, segundo a PTGamers. Essas pessoas de tão fissuradas que estão nos jogos passam horas e mais horas em frente ao computador, alheios a realidade, esquecidos de suas próprias necessidades básicas, como comer e dormir. Quando se alimentam, comem sem sair de perto do computador e muitas vezes veem o dia amanhecer e só assim, vencidos pelo cansaço, é que se entregam ao sono, mas assim que se acordam voltam à mesma rotina. Pais e cuidadores atentem-se, pois estamos falando de uma dependência tão perigosa quanto à dependência química, segundo constataram os psicólogos da Interdisciplinary Addiction Research Group, na Charité University Hospital Berlin, na Alemanha. Os resultados do estudo realizado indicou que os mecanismos de dependência dos jogos de computador no cérebro são semelhantes aos provocados pelo vício de drogas, como o álcool. A partir do resultado encontrado, diversas clínicas foram abertas visando o tratamento desses dependentes.

Na China, por exemplo, já se contabilizam 2 milhões de jovens dependentes, segundo pesquisa promovida pela Liga da Juventude Comunista. Nos anos de 2006 a 2007, o Hospital das Clínicas (HC), de São Paulo, o primeiro a tratar de adolescentes e adultos dependentes de internet, constatou que em relação aos adolescentes o foco do problema está entre 12 a 17 anos de idade.

As compulsões ou comportamentos compulsivos ou aditivos que são gerados pela dependência, são hábitos aprendidos (internalizados) e seguidos por alguma gratificação emocional, geralmente objetivando um alívio de ansiedade ou de angústia. Tais comportamentos são ações que foram executadas inúmeras vezes e acontecem quase automaticamente. A gratificação que se segue ao ato, seja ela o prazer ou alívio do desprazer, reforça a pessoa a repeti-lo, mas, com o tempo, depois desse alívio imediato, segue-se uma sensação negativa por não ter resistido ao impulso de realizá-lo. Mesmo assim, a gratificação inicial (o reforço positivo) permanece mais forte, levando a repetição. Chegará um momento em que mesmo que a pessoa não queira acessar a internet ou jogar, uma pressão da ordem do pulsional (de algo que é muito intenso), da satisfação imediata, do prazer, irá obrigá-la a se conectar a rede ou jogar.

A pessoa sofre porque, apesar do objetivo de aliviar as tensões emocionais, não existirá um bem estar mental. A isto, mesmo sendo a pulsão da ordem da satisfação, a tensão psíquica proveniente da ansiedade ou angústia terá um quantitativo maior do que a esperada satisfação, promovendo, então, o sofrimento psíquico do indivíduo. Segundo Lacan (1901-1981), a angústia estaria relacionada com a questão da falta. Portanto, a angústia nada mais é do que uma sinalização dessa falta que emerge e deixa a pessoa no vazio, um vazio existencial.

Antigas e saudáveis brincadeiras que exigiam espaço, movimentação e que também serviam para o desenvolvimento da psicomotricidade e dos laços relacionais das crianças ficaram para trás, dando lugar há horas a fio de frente a um monitor teclando num sei lá o quê. É de salientar que as crianças que se encontram no extremo da anormalidade se apresentam hiperexcitadas, rebeldes, ansiosas, isoladas, alienadas ou extremamente consumistas. Crianças, adolescentes e adultos poderão deixar o contato com seus familiares e amigos ou, então, tê-los apenas pela rede, confinando-se ao seu quarto e elegendo como seu principal companheiro o seu computador. Esse isolamento no futuro poderá também levar a depressão e o agravamento do quadro. Quais implicações terão essas inovações tecnológicas para a formação das subjetividades dos chamados neo-sujeitos? A isto só Deus sabe ou a sociedade no futuro.


* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: O TRABALHO DE PARTO E AS ETAPAS DO NASCIMENTO


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O trabalho de parto é um acontecimento difícil tanto para a mulher como para o bebê, provocando uma série de mudanças uterinas, cervicais, entre outras, as quais serão denominadas de parturição. Geralmente, a parturição é iniciada cerca de duas semanas antes do parto, quando se verifica a elevação dos níveis de estrogênio que irá estimular o útero a se contrair e a cérvix a ficar flexível. Serão através das contrações uterinas que começam por volta dos 266 dias após a concepção como suaves retesamentos do útero é que o feto será expulso. Poderá acontecer que a mulher durante os últimos meses da gravidez sinta algumas vezes falsas contrações, mas só tomará como verdadeiras as contrações que possua uma maior regularidade e intensidade, essas serão as contrações do nascimento.

O trabalho de parto se desenvolve em três etapas. A primeira possui uma duração aproximada de doze horas sendo que, para a mulher que está tendo o seu primeiro filho este tempo será um pouco mais prolongado. Em uma segunda gravidez, ou seja, em um segundo parto, esse tempo tende a ser menor. Esta etapa é extremamente crucial para a vida do bebê. Durante essa etapa é que se verificam as contrações uterinas regulares e cada vez mais frequentes que irão causar a dilatação ou alargamento da cérvix. Na segunda etapa as contrações já estão mais intensas e também são mais constantes durando aproximadamente uma hora. Ela é marcada quando a cabeça do bebê começa a se deslocar pela cérvix em direção ao canal vaginal, terminando quando a criança emerge totalmente do corpo da mãe. Essa etapa do parto é sem sombra de dúvidas crucial para o bebê, pois caso dure mais do que duas horas, sinalizando que a criança precisa de ajuda para efetuar por completo o seu nascimento, o médico se utilizará do fórceps para segurar a cabeça do bebê, ou então, poderá usar a extração a vácuo com uma ventosa de aspiração para puxar a criança para fora do corpo da mãe. Ao término dessa etapa nasce o bebê. Na terceira e última etapa que dura entre cinco a trinta minutos, a placenta e o cordão umbilical são expelidos do útero e o cordão umbilical é cortado pelo médico.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.



quarta-feira, 17 de julho de 2013

AMAMENTAÇÃO: A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE SATISFAÇÃO QUE INSTITUI A PULSÃO

Fonte: http://alessandrafaria.com/2013/07/amamentacao-um-ato-de-amor-e-doacao/

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins


Freud instituiu a primeira experiência de satisfação do sujeito através da satisfação alimentar, ou seja, através da satisfação oral, pela qual a fome se manifesta para a criança sob a forma de uma tensão, a saber, de um desprazer ligado unicamente a uma necessidade orgânica que exige ser saciada, plenamente satisfeita. O alimento oferecido pela mãe ou, melhor dizendo, o peito, constitui-se para o pequeno ser um objeto de satisfação que, mesmo depois de mamar o objeto é alvo de sua alucinação, continuando com a boca o mesmo comportamento de quando ainda estava mamando, como também elegendo o dedo ou a chupeta como objetos substitutivos do peito da mãe. Nesse momento, inicialmente, a satisfação  alimentar ainda não possui uma representação psíquica ou, seja, o peito ainda não possui a referida representação que a criança tenha buscado como tal. Apenas é caracterizada por uma satisfação que visa um prazer imediato ligado à redução do estado anterior, estado de tensão. Essa primeira experiência é de grande importância para o bebê, pois dela ou delas vão se formando as primeiras experiências que irão deixar um traço mnêmico referente à imagem/percepção do objeto.

Será a partir daí que esse objeto (peito) será investido pelo bebê e se constituindo como uma representação psíquica. Temos então, a formação da primeira representação psíquica para esse ser.  Mas, o que isso representa? Uma representação psíquica antecipada da satisfação. Da próxima vez que o pequeno ser for acometido de outra tensão que exija satisfação imediata, o bebê recorrerá à busca dessa representação para eliminar a tensão que causa desprazer nele. A partir daí temos constituído o processo pulsional.

O que entendemos com isso? Que o traço mnêmico, traço representativo da satisfação do bebê, será o representante pulsional que o levará ao objeto de sua satisfação (o peito). O objetivo da satisfação não será mais a necessidade e sim a busca pela reprodução do traço mnêmico. Trocando em miúdos, quando existir a tensão (fome) também existirá um traço mnêmico, uma representação das primeiras experiências de satisfação que ele teve. Freud caracterizava tal processo como uma reprodução alucinatória – representação antecipada – de percepções transformadas em signos de satisfação.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

DEPRESSÃO INFANTIL


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Ao contrário do que se imagina a depressão não é um mal relacionado apenas a adultos, estima-se que cerca de 2% das crianças apresentam ou já apresentaram sintomas depressivos. Entender e diagnosticar a depressão infantil não é nada fácil, pois os sintomas poderão ser confundidos como birra, malcriação, mau humor, agressividade e finalmente tristeza. Ficar triste é uma decorrência da vida que os seres humanos em muitos momentos da existência vivenciam por esse ou aquele motivo, mas o que vai sinalizar para uma depressão é a intensidade e persistência dessa tristeza que culminará numa mudança de hábitos da criança. Hábitos que antes eram naturais do dia-a-dia aos poucos vão ficando sem graça e deixados de lado.

Geralmente a depressão se apresenta após uma experiência traumática como separação dos pais, morte de uma pessoa querida ou mesmo de um animal de estimação, bullying, mudança de colégio ou uma mudança radical de vida que a desestruture em suas referências. No entanto, a depressão poderá ocorrer ainda na primeira infância estando relacionada a frustrações precoces e graves ligadas a qualidade do investimento materno. O empobrecido investimento libidinal da mãe no papel do Outro primordial da criança, a falta de desejo dessa mãe, a ausência da palavra amorosa (desejante) e talvez uma possível representação de intrusão vista em relação a esse bebê, poderão acarretar em sérias consequências para o circuito pulsional da criança, podendo não apenas provocar uma depressão como coisa pior. Uma boa interação mãe-bebê ou, o encontro mãe-bebê é de suma importância para o desenvolvimento do mesmo, e a isso já enfatizava Winnicott quando dizia:


"Sem ter alguém dedicado especificamente às suas necessidades, o bebê não consegue estabelecer uma relação eficiente com o mundo externo. Sem alguém para dar-lhe gratificações instintivas e satisfatórias, o bebê não consegue descobrir seu próprio corpo nem desenvolver uma personalidade integrada".


O processo de evolução do desenvolvimento neuro motor e psíquico da criança iniciam, assim que ela nasce, e será através dos cuidados maternais e da afetividade que a mãe passa para seu filho, a somar a uma boa relação do casal ou familiar e ao ambiente externo sem muitas intrusões que invadam a intimidade do bebê, que propiciará um desenvolvimento harmonioso e sadio para o mesmo, obviamente, incluindo os fatores genéticos favoráveis para tal.

Será através da mãe que a criança entrará no campo das representações, ou seja, no campo do simbólico, sendo a mãe a primeira a decodificar os primeiros signos para a criança, nomeando seu choro a alguma necessidade. Segundo Winnicott, no último trimestre gestacional a mãe desenvolve um estado psicológico especial denominado por ele de “preocupação materna primária”. O que isso significa? Que a mãe adquire uma acentuada sensibilidade nos períodos pós parto e puerperal, conseguindo, assim, identificar e diferenciar as necessidades físicas do bebê como também, a necessidade que o bebê tem de reconhecer o que o rodeia. Isso explica o que mencionei antes sobre a nomeação que a mãe faz do choro do bebê a alguma necessidade dele.

É uma relação que exige alienação por parte do bebê e dedicação por parte da mãe, existindo, assim, uma identificação de ambas as partes. Aspectos qualitativos do investimento maternal poderão ser quebrados, por exemplo, por uma forte vivência de luto que a mãe esteja passando, descompensações depressivas. A isto, temos a dizer que o nível de exposição da criança com a mãe depressiva também concorre para o desenvolvimento do quadro na criança. A falta de continuidade dos cuidados, vivência de separação da mãe ou de seu cuidador ou cuidadora, também são extremamente significativos para a formação do quadro. Mas, vale salientar que, antes dos seis meses de vida do bebê não se cogita em dizer que exista uma depressão, mas respostas depressivas. No entanto, no segundo semestre, ocasionada pela ruptura da relação com o objeto maternal, a criança poderá desenvolver um quadro precoce e bastante grave de depressão, chamada de depressão anaclítica. É uma depressão infantil precoce que provoca um severo prejuízo no desenvolvimento físico e psíquico das crianças que são negligenciadas pelas mães.

A criança apresenta um quadro de perda gradual de interesse pelo meio, perda de peso, comportamentos estereotipados (tais como balanceios) e, eventualmente, a morte. Com a manutenção da negligência da mãe o quadro será intensificado e o bebê irá desistir de seus apelos quando sentir suas necessidades, podendo também desenvolver um quadro de autismo, segundo a psicanálise. Um exemplo que caracteriza o que estou mencionando é o da depressão pós-parto. O bebê chora de fome e a mãe não tem forças para alimentá-lo. Neste caso não é que exista uma negligência proporcional, mas existe uma indisposição que irá se equiparar a uma negligência ou, melhor dizendo, a consequência dela. É importante lembrar que a mãe ao ocupar a função do Ego de suporte de seu bebê, deverá não só compreender suas necessidades e acolhê-lo em todas elas, mas também ser sensível observando como o bebê ou a criança mais velha reage ao meio externo (evitando intrusões), criar as condições necessárias para um ambiente saudável e alegre em todas as etapas do desenvolvimento de seu filho. Os primeiros meses e anos de vida do indivíduo são extremamente importantes para sua constituição. Falhas ou ineficiência no contato mãe-bebê poderá acarretar prejuízos cognitivos e alterações de personalidade que perdurará até a vida adulta.

O diagnóstico de depressão infantil é normalmente feito a partir de critérios de comportamento, tais como: atonia afectiva, inércia motora, pobreza interactiva/retirada, desorganização psicossomática (Kazdin, 1990).

A depressão infantil é avaliada em detrimento de sua duração e das falhas funcionais que a acompanham. Encontram-se, também, sintomas associados, como perturbações do comportamento, défices de atenção, falta de vivacidade na expressão dos afetos, falta de apetite, desânimo para desenvolver suas competências relacionais e cognitivas, isolamento, irritabilidade, hiperatividade, cefaleia, dores de estômago e outros. Segundo Fábio Barbirato, crianças em idade pré-escolar (até 5 anos) tendem a desenvolver sintomas como melancolia, enurese (xixi na cama), encoprese (eliminação de fezes involuntária) e crises de choro. Também podem ocorrer regressão no desenvolvimento psicomotor, insônia e pesadelos. 

O Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais determina a necessidade de identificar pelo menos cinco dos treze sintomas, com durabilidade de duas semanas, para comprovação do quadro.


1. Alteração de humor, com irritabilidade e ou choro fácil
2. Ansiedade
3. Desinteresse em atividades sociais, como ir a escola, brincar com os amigos ou com brinquedos
4. Falta de atenção e queda no rendimento escolar
5. Distúrbios de sono, como dificuldade pra dormir ou ter sono o dia inteiro
6. Perda de energia física e mental
7. Reclamações por cansaço ou ficar sem energia
8. Sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo
9. Dores na barriga, na cabeça ou nas pernas
10. Sentimento de rejeição
11. Condutas antissociais e destrutivas
12. Distúrbios de peso, emagrecer ou engordar demais
13. Enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação


A depressão infantil tem seu início insidioso, ou seja, sorrateiramente, apresentando múltiplos sintomas. É preciso que a criança apresente pelo menos cinco sintomas referentes ao quadro para se confirmar o diagnóstico. Os pais, sobretudo, a mãe, devem observar mudanças significativas ou não de comportamento de seu filho, como também, reavaliar sempre seus próprios  comportamentos em relação a criança. Segundo Winnicott, a mãe é a responsável pela saúde psíquica de seu filho, ou seja, sendo uma boa mãe ela propiciará um harmonioso e saudável desenvolvimento para seu filho. No entanto, o pai, como balizador dessa relação, como castrador do gozo da mãe e como o sujeito que irá inscrever a falta, o limite, a lei ao filho, deverá compartilhar imensamente da responsabilidade de educar, mas, sobretudo, de ser um bom pai. Ser uma boa mãe ou um bom pai não é ser um indivíduo que não erra, pois isso é impossível, mas apenas ser uma boa mãe ou um bom pai. O que isso significa? Sua consciência, assim, o dirá!  

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.