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Por Jorge Roberto Fragoso Lins
No período após a ovulação e
no que antecede a menstruação a mulher passa por uma variante de ocorrências
que são caracterizadas por uma síndrome de mudanças comportamentais, afetivas,
cognitivas e somáticas que são repetidas ao longo desses ciclos. A síndrome
pré-menstrual (SPM), também conhecida como tensão pré-menstrual, conhecida
popularmente como (TPM), consiste de uma ocorrência repetitiva de muito
desconforte, irritabilidade, depressão ou fadiga. Os sintomas ainda são
acompanhados de dor nas mamas, no abdômen e nas extremidades e de cefaléia. Em
média se inicia cerca de 2 semanas antes da menstruação suavizando após o
início da mesma. Tais sintomas são referentes à elevação e queda dos esteróides
sexuais ovarianos, correlacionados aos neurotransmissores, ao humor e ao
comportamento. Tais ocorrências são pertinentes a um cliclo espontâneo
ovulatório sem a presença de intervenções famacológica, hormonal, sobretudo, de
ingestão de drogas e álcool, nos quais mascarariam a progressão dos sintomas
referente-se ao ciclo menstrual.
Entre as gestantes o índice
de sintomas depressivos é elevado e estima-se que cerca de 10% preencham os
critérios para o diagnóstico de transtorno do humor. Geralmente a depressão de
leve intensidade das parturientes é transitória requerendo pouca intervenção
por parte do profissional. No entanto, existem casos que evoluem para um
episódio depressivo maior. Portanto, deve-se investigar a história de vida da
paciente buscando encontrar a causa motivadora que pode ser encontrada numa
revivência traumática do Édipo, na relação atual com seu companheiro, por estar
vivendo uma situação estressante ou mesmo traumática, um luto, fatores psicossociais, etc. Existe também
a possibilidade do quadro se agravar para doenças puerperais psicóticas graves,
podendo chegar ao ponto da mãe ver a criança como algo diabólico, ou mesmo não
reconhecê-la como filho, interferindo extremamente em toda estrutura famíliar. Em
ambos os casos aconselha-se o tratamento medicamentoso com uma psicoterapia. É
importante lembrar que a mulher no período gestacional passa por sentimentos
ambivalentes em relação à maternidade e podem estar sujeitos a exageros.
Durante o período do
climatério existem muitas flutuações hormonais que são próprias da faixa etária
e do emocional da mulher, podendo provocar tristeza, choro fácil, desânimo,
cansaço, falta de energia, ansiedade, nervosismo, irritabilidade, insônia,
perda de concentração, mudanças na libido e uma variação de sintomas
depressivos, entre outros. É preciso salientar que climatério não representa a
mesma coisa que menopausa. Compreende-se por climatério uma transição que está
acontecendo no ciclo de reprodução da mulher, ou seja, uma transição do período
reprodutivo para o período não reprodutivo; já a menopausa, tem seu início a
contar da última menstruação da vida da mulher
O surgimento da menopausa
pode precipitar transtornos afetivos preexistentes, podendo assinalar para
quadros depressivos de maior gravidade. Esta fase é extremamente influenciada
por fatores sócio-familiares e culturais e alterações corporais. Tais fatores
repercutem no surgimento de sentimentos como a perda da feminilidade, já que a
mulher pode associar o fim do ciclo reprodutivo com o deixar de ser feminina, mudança
na sexualidade, medo de ficar vulnerável a doenças crônicas entre outros. A
mulher ainda tem que lidar com a queda dos níveis hormonais, a perda da massa
óssea, e em alguns casos, pode surgir um quadro de incontinência urinária,
ardência à micção que possibilita a adquirir infecções urinárias. Os pêlos
pubianos tendem a ficar mais ralos e os grandes lábios mais finos, a mucosa
vaginal perde elasticidade e flexibilidade propiciando a sangramentos e dor na
penetração.
Na
menopausa a mulher se confronta com um lastro de modificações corporais que podem se constituir em um forte
sentimento de perda para sua subjetividade. Recorrendo aos complexos de Édipo e
de Castração podemos mencionar que a fertilidade para a mulher não se resume apenas
na possibilidade de gerar um filho, mas o de ter o tão sonhado falo que ela não
encontrou na mãe e por identificação também não encontrou em seu próprio corpo.
É importante salientar um aspecto nesse caso, que não existe um significante para o
“não ter o falo”, significante
da mulher, e é justamente por não existir essa insígnia na mulher de ter o falo, que ela irá procurar no companheiro – o substituto
do pai –, sendo com ele que ela poderá dispor do poder de ter o falo ao gerar um
filho. Dito de outra forma, o filho representa
o próprio falo para a mulher, ou seja, é o que a mulher sempre quis dizer para
o homem e não pôde dizer antes, a saber, “sou eu quem tem e não você!”. Outro aspecto a ser levado em consideração é o da necessidade de
se identificar como mulher e,
consequentemente, de estabelecer a diferença entre os gêneros. Isto pode ser compreendido da seguinte forma: “minha
fertilidade me faz ser a única a gerar
uma criança e só eu gozo desse privilégio!” Aqui, não estamos falando em estabelecer a posição masculina ou a posição feminina,
mesmo porque são posições
acessíveis a ambos os sexos, mas de estabelecer a diferença entre os gêneros
masculinos e femininos.
Sentir-se
mulher é ter plena certeza que não terá o falo da forma que tem o homem, não no
sentido machista, mas no sentido psicanalítico, vale salientar, mas de saber
que poderá tê-lo por outras vias, e ter plena certeza de que ser mulher e fértil
lhe concede o gozo do poder e o perfume da feminilidade, feminilidade esta
construída inicialmente nas trocas entre a mãe e o bebê, uma forma de relação
singular que a mãe terá com o filho ou com a filha, no caso em questão com a
menina, que moldará as relações da menina com o mundo a partir de sua
identificação com a mãe, processo esse cheio de nuances somatopsíquicas que
incluem as marcas corpóreas primitivas, o que irá resultar na constituição de realidades psíquicas
singulares, ou seja, de uma realidade pré-simbólica, que deverá fundamentar
para as simbolizações e por fim para uma relação transferencial.
Como
vimos, a mulher em sua trajetória subjetiva é marcada intensamente pelos seus ciclos
biológicos e pelo social. Ao contrário de outros tempos, a mulher tem uma vida
mais intensa. Seu corpo e sua sexualidade não se encontram mais reprimidos,
pelo contrário, observa-se que seu corpo a cada dia passa a ser mais pulsional
e sua feminilidade chega atingir a um erotismo nunca antes visto reflexo da própria
pulsão que erotiza seu corpo e que exige uma satisfação imediata. Já dizia Freud
(1856-1939) que mais do que “um enigma, o feminino é um corpo que, considerado
como pulsional, está em constante construção.
Atualmente
o ciclo reprodutivo feminino ou, melhor dizendo, os ciclos reprodutivos
femininos, são vividos de forma diferente como se vivia há décadas atrás. Muito
provavelmente são vividos com maior intensidade do que antes devido ao novo
cenário contemporâneo que vem quebrando paradigmas e construindo uma nova
mentalidade de vida. A mulher deixou de ser aquela mulher reprimida que Freud
tratou – as histéricas – para ser uma mulher que se impõe em seu discurso e não
reprime o seu desejo. No passado seu desejo era renegado pela sociedade e o que
lhe restava era recalcá-lo sofrendo silenciosamente. No presente, provavelmente
pelas inúmeras exigências de ser mulher, mãe e trabalhar tudo ao mesmo tempo a
quebrar desse ritmo com certeza irá produzir algum mal-estar, mas o próprio
ritmo, os próprios afazeres também. Somando a isso toda a história de vida da
mulher, seus traumas, conflitos, seu corpo, sua sexualidade e inúmeros outros
aspectos estarão presentes, por exemplo, em sua primeira menstruação – menarca –,
em uma gestação e na menopausa. Compreender os ciclos reprodutivos da mulher é,
sobretudo, ter uma visão mais ampla do universo feminino e de um lidar clínico
com elas.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em
intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.
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