* Por Jorge Roberto Fragoso Lins
Em 1943, o psiquiatra
austríaco e diretor do serviço de psiquiatria do Johns Hopkins Hospital, Dr.
Léo Kanner, ao observar o comportamento de algumas crianças menores de um ano
que fugia ao padrão de comportamento, assinalando para uma acentuada tendência
ao retraimento e com diagnóstico de intensa debilidade mental ou de deficiência
auditiva, tendo como principal indicativo a impossibilidade de estabelecer
desde o início da vida contato com as pessoas e com a realidade, descreveu e
nomeou o quadro do autismo infantil
precoce. Kanner relata que as crianças ao serem pegas pelos pais depois de
horas sem vê-los não esboçavam qualquer tipo de reação, não mudavam de posição
ou mesmo de fisionomia, como também não se moldavam ao corpo de quem as
segurassem.
Para alguns psicanalistas,
existe a compreensão de que o autismo estaria vinculado a uma estrutura
psicótica sendo uma variante da esquizofrenia. Eles asseveram que existiria
como na psicose uma forclusão do Nome do Pai, um modo de retorno ao gozo. Esta
visão é rebatida por outros psicanalistas que compartilham da idéia da não
existência do Outro, do S¹ e do Objeto a. Não podendo dizer em uma forclusão do
Nome do Pai, mas sim de uma forclusão de uma simbolização primordial da mãe, já
que é do discurso do mestre que partem os demais discursos. As duas visões
podem ser compreendidas da seguinte forma. No autismo haveria uma falha da
função materna e, na psicose, uma falha da função paterna. Isso significa que
no primeiro caso, no qual denota uma maior lógica, a mãe falhou na relação com
o pequeno ser, não conseguindo estabelecer uma boa interação com ele,
provocando, assim, uma experiência traumática de distanciamento no início da
constituição subjetiva do indivíduo, ou seja, na fase de maior fragilidade e
vulnerabilidade do ser humano. Portanto, é mais adequado dizer que existe uma
exclusão ao invés de forclusão existente na psicose.
Numa visão neurológica, compreende-se
que os processos cerebrais ligados à comunicação sofrem alterações que
desencadeiam o transtorno muito antes das primeiras características se
apresentarem. Chegou-se a esta conclusão a partir de uma recente pesquisa
conduzida pelo pesquisador Jason Wolff, da Chapel Hill University,
da Carolina do Norte, publicada pelo American Journal of Psychiatry.
Os pesquisadores investigaram o desenvolvimento cerebral de 92 bebês. Um
aspecto significativo desta pesquisa é que todos os 92 bebês investigados eram
irmãos de autistas. Os pesquisadores através de exames de ressonância magnética
acompanharam as mudanças na organização neurológica dos bebês, e quando eles
atingiram a idade de 2 anos, 28 crianças teriam desenvolvido o autismo. No
entendimento dos pesquisadores a incidência do transtorno entre irmãos
possibilita uma correlação genética. Foi observado que o componente sólido do
sistema nervoso central – substância branca – que é responsável pela
transmissão de sinais entre regiões do cérebro aos poucos foi se formando nas
crianças que posteriormente desenvolveram o autismo. Já nas outras 64 crianças
essa estrutura se desenvolveu logo. Também foram observadas alterações no
desenvolvimento das fibras nervosas que conectam as áreas cerebrais. Segundo os
pesquisadores, esses indícios podem sugerir a possibilidade que o transtorno
alcance todo o cérebro e não uma única área específica.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em
intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.
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