quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O AUTISMO E SUA INCÓGNITA


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Em 1943, o psiquiatra austríaco e diretor do serviço de psiquiatria do Johns Hopkins Hospital, Dr. Léo Kanner, ao observar o comportamento de algumas crianças menores de um ano que fugia ao padrão de comportamento, assinalando para uma acentuada tendência ao retraimento e com diagnóstico de intensa debilidade mental ou de deficiência auditiva, tendo como principal indicativo a impossibilidade de estabelecer desde o início da vida contato com as pessoas e com a realidade, descreveu e nomeou o quadro do autismo infantil precoce. Kanner relata que as crianças ao serem pegas pelos pais depois de horas sem vê-los não esboçavam qualquer tipo de reação, não mudavam de posição ou mesmo de fisionomia, como também não se moldavam ao corpo de quem as segurassem.

Para alguns psicanalistas, existe a compreensão de que o autismo estaria vinculado a uma estrutura psicótica sendo uma variante da esquizofrenia. Eles asseveram que existiria como na psicose uma forclusão do Nome do Pai, um modo de retorno ao gozo. Esta visão é rebatida por outros psicanalistas que compartilham da idéia da não existência do Outro, do S¹ e do Objeto a. Não podendo dizer em uma forclusão do Nome do Pai, mas sim de uma forclusão de uma simbolização primordial da mãe, já que é do discurso do mestre que partem os demais discursos. As duas visões podem ser compreendidas da seguinte forma. No autismo haveria uma falha da função materna e, na psicose, uma falha da função paterna. Isso significa que no primeiro caso, no qual denota uma maior lógica, a mãe falhou na relação com o pequeno ser, não conseguindo estabelecer uma boa interação com ele, provocando, assim, uma experiência traumática de distanciamento no início da constituição subjetiva do indivíduo, ou seja, na fase de maior fragilidade e vulnerabilidade do ser humano. Portanto, é mais adequado dizer que existe uma exclusão ao invés de forclusão existente na psicose.  

Numa visão neurológica, compreende-se que os processos cerebrais ligados à comunicação sofrem alterações que desencadeiam o transtorno muito antes das primeiras características se apresentarem. Chegou-se a esta conclusão a partir de uma recente pesquisa conduzida pelo pesquisador Jason Wolff, da Chapel Hill University, da Carolina do Norte, publicada pelo American Journal of Psychiatry. Os pesquisadores investigaram o desenvolvimento cerebral de 92 bebês. Um aspecto significativo desta pesquisa é que todos os 92 bebês investigados eram irmãos de autistas. Os pesquisadores através de exames de ressonância magnética acompanharam as mudanças na organização neurológica dos bebês, e quando eles atingiram a idade de 2 anos, 28 crianças teriam desenvolvido o autismo. No entendimento dos pesquisadores a incidência do transtorno entre irmãos possibilita uma correlação genética. Foi observado que o componente sólido do sistema nervoso central – substância branca – que é responsável pela transmissão de sinais entre regiões do cérebro aos poucos foi se formando nas crianças que posteriormente desenvolveram o autismo. Já nas outras 64 crianças essa estrutura se desenvolveu logo. Também foram observadas alterações no desenvolvimento das fibras nervosas que conectam as áreas cerebrais. Segundo os pesquisadores, esses indícios podem sugerir a possibilidade que o transtorno alcance todo o cérebro e não uma única área específica. 



* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia. 

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