terça-feira, 30 de julho de 2013

OBJETO TRANSICIONAL, O OBJETO QUE FAZ LIGA AO MUNDO EXTERNO


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O bebê se encontra inteiramente dependente de sua mãe para realizar suas necessidades, e será através dela, ou seja, desse Outro primordial ou de quem ocupe este lugar que a criança construirá sua integração como unidade. Na medida em que a integração do infante vai se tornando mais consistente, seu amadurecimento exigirá algo do mundo externo que se faça presente e se misture a sua onipotência, ou seja, um objeto transicional que cumprirá também o papel de indicar o simbólico, um instrumento que possibilita a travessia do bebê desde a sua subjetividade até a objetividade, abrindo, assim, o leque de suas experimentações. Em outras palavras, o objeto transicional é um instrumento que conduz o bebê rumo a um Não-eu que ele sentirá como externo, provocando sua primeira experiência de posse sem ser a do seio materno, mesmo porque para o bebê nessa fase seu corpo se confunde com o corpo da mãe sendo um só corpo.

Segundo Winnicott, o objeto transicional é eleito pelo bebê por volta dos 4-6-8-12 meses de idade, e a capacidade de adotá-lo denota que o andamento de seu desenvolvimento está em curso. A partir daí observam-se algumas mudanças e a principal delas é a de que o bebê está passando de uma dependência absoluta para uma dependência relativa, preparando terreno para o estágio do concernimento. Neste estágio a integração do ego já atingiu um grau em que o indivíduo pode perceber a personalidade da figura materna, tendo como consequência o sentimento de concernimento quanto aos resultados de suas experiências instintivas, tanto físicas quanto ideativas, ou seja, o estágio de concernimento traz a capacidade para a criança de sentir culpa.

O bebê que está passando de uma dependência para outra pode se tornar consciente da necessidade dos detalhes do cuidado maternal e relacioná-los, numa dimensão crescente, a impulsos pessoais.

Os objetos transicionais exercem a função de amparo ao substituírem a mãe, e é quase uma parte inseparável da criança, marcando o início da quebra da unidade mãe-bebê. Winnicott salientou três realizações fundamentais relativas a  progressão da dependência absoluta para a dependência relativa, são elas: a integração, a personificação e o início das relações objetivas.

É na fase da dependência relativa que o bebê vai experienciar estados de integração e não integração, formar conceitos de Eu e Não-eu – mundo interno e interno – e o amadurecimento necessário para o estágio de concernimento. Winnicott também chamou a fase da dependência relativa de rumo à independência, e é justamente isso que essas fases representam, o fomento de proporcionar a  independência da criança frente à sua mãe. O bebê vai desenvolver meios para prescindir dos cuidados da mãe, ou seja, não será tão dependente quanto antes. Mas isso só ocorrerá caso exista nitidamente para o bebê a memória dos cuidados que a mãe teve com ele, da projeção das necessidades pessoais com a introjeção do cuidado maternal e com o desenvolvimento da confiança no ambiente. 

Os objetos transicionais pode ser um pano que esteja próximo ao bebê, o lençol, a chupeta, um boneco ou boneca, e outros. Conforme Winnicott, quando o bebê passa a usar sons organizados (mmmm, tá, dá), pode aparecer uma ‘palavra’ para o objeto transicional. O nome dado pelo bebê para esses objetos iniciais é frequentemente significativo, e normalmente traz incorporada a parte de uma palavra usada pelos adultos. Por exemplo, o nome pode ser ‘Baa”, o ‘b” sendo parte da palavra ‘bebê’.

Winnicott faz uma observação que provavelmente irá afetar muitas mães com  traço obsessivo por limpeza. No entendimento de Winnicott, a mãe não deve lavar o pano ou lençol ou qualquer que seja o objeto transicional, deixando até mesmo ficar malcheiroso. O autor argumenta que se o objeto for lavado haverá uma ruptura na experiência do bebê, uma quebra que poderá destruir o valor e o significado do objeto. E para o caso de querer trocar o objeto por outro igual não adianta, pois por mais que seja idêntico não produzirá o mesmo efeito. Outra importante função do objeto transicional é o de ajudar no desmame já que aos poucos vai existindo o descolamento mãe-bebê.   

O destino do objeto transicional é que gradualmente vá sendo descatexizado, de modo que no decorrer dos anos ele se torne relegado ao limbo. Não quer dizer que o objeto transicional seja esquecido pelo indivíduo e nem tampouco que exista a vivência de um luto, mas simplesmente ele perde o sentido de antes para se tornar fenômenos transicionais difusos que irão responder pela realidade psíquica e o mundo externo de modo bem mais complexo do que antes e bem mais amplo, sejam bem-vidos a fases mais maduras do ser humano.

 * Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.


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