Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_do_espelho
Por
Jorge Roberto Fragoso Lins *
O estádio do espelho foi uma
analogia empregada por Lacan referente ao “olhar da mãe” em relação ao seu bebê.
A metáfora é aplicada em crianças entre 6 e 18 meses de idade e é através da
via imaginária de si mesma que a criança aos poucos vai adquirindo uma imagem
totalizadora do seu corpo, através do olhar da mãe – pulsão escópica – que
funciona como um espelho para ela, imagem especular.
A via imaginária também se
estende a mãe, pois não se trata apenas da imagem de um corpo real que a mãe vê,
mas da imagem da imagem, ou seja, da imagem que a mãe tem do corpo dessa
criança. O olhar da mãe deverá exprimir desejo, ternura e amor, e a vocalização
– pulsão invocante – do que é dito desse corpo, desse bebê, deverá estar em perfeita
sincronia com esse olhar. Segundo Violante (2010), no registro do processo
primário, a zona auditiva obedece ao mesmo tempo modo de funcionamento de
qualquer outra zona erógena. O ouvido, assim como outras zonas erógenas, recebe
as informações que são metabolizadas pela psique e produz o prazer no encontro
objeto-zona complementar. Portanto, fica claro pelo entendimento de Lacan
(1953-1954) que, o Eu é referente ao outro e se constitui em relação a ele,
numa experiência de linguagem que é mediada pela palavra.
A criança nessa fase possui
uma percepção parcial, fragmentada de si mesma, ocorrendo a aquisição de sua
imagem totalizadora antes mesmo de sua própria maturação biológica.
Na medida em que a mãe olha
e vê a criança como um todo, como um inteiro, a criança se reconhece nesse
olhar, estabelecendo sua primeira identificação, ou seja, a identificação primária,
o Eu Ideal, sua primeira identificação subjetiva. Esse campo da imagem é
relativo ao narcisismo primário.
Lacan instituiu três tempos
para que ocorresse a identificação subjetiva. No primeiro tempo, a criança
percebe a imagem de seu corpo como um outro real, ou seja, a criança se
sentiria confusa entre si mesma e o outro. No segundo tempo, a criança descobre
que o outro que aparece no espelho não é real, mas uma imagem. Porém, ainda não
percebe que é sua própria imagem. No terceiro tempo, a criança já tem a
convicção de que a imagem que aparece no espelho é de fato a sua, a imagem do seu
corpo por inteiro, estruturante para sua identidade: Eu Ideal. Portanto, o “Eu
Ideal” é da ordem de uma dimensão imaginária da estrutura subjetiva, implicando
um desconhecimento e a alienação de si, do Eu.
Segundo Aulagnier (1975) por
Violante, “desde a entrada em funcionamento do processo originário até o
funcionamento do processo secundário, a função pensante já se faz presente,
porém com características próprias – pensamentos – idéias cuja lógica difere
daquela imposta pelo Eu. Segundo a autora, antes do advento do Eu, a criança já
faz uso da palavra, e indaga-se quais seriam a natureza e o alcance lógico da
palavra no processo primário. Sua hipótese é a de que há uma etapa de transição
entre os dois processos, primário e secundário, a qual ele denominou primário-secundário;
nessa etapa, a imagem de palavra está coexistindo com a imagem de coisa. Em
outros termos, no primário, a imagem de palavra está presente não como signo
linguístico, mas somente como significações submetidas à lógica da onipotência
do desejo do Outro – as significações primárias”.
O que ocorre no estádio do
espelho é por fim à angústia de um corpo fragmentado dando início a uma dialética
mediada pela linguagem, promovendo, assim, a primeira identificação com o
outro. Esse processo insere a linguagem fundando o simbólico na subjetividade da
criança. Lacan, ao inserir o conceito de linguagem à teoria de Freud, diz que a
linguagem compreende uma rede que envolve o indivíduo, estando presente sempre,
mesmo antes de seu nascimento, regulamentando as relações, pensamentos e a
própria existência, ou seja, o sujeito é assujeitado pela linguagem pela via da
alienação com o Grande Outro, através de seu significante mestre, significante
do gozo fálico que inscreve a lógica da significação fálica.
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Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas
em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.
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