quinta-feira, 4 de julho de 2013

O ESTÁDIO DO ESPELHO COMO FORMADOR DA FUNÇÃO DO EU


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_do_espelho


Por Jorge Roberto Fragoso Lins *

O estádio do espelho foi uma analogia empregada por Lacan referente ao “olhar da mãe” em relação ao seu bebê. A metáfora é aplicada em crianças entre 6 e 18 meses de idade e é através da via imaginária de si mesma que a criança aos poucos vai adquirindo uma imagem totalizadora do seu corpo, através do olhar da mãe – pulsão escópica – que funciona como um espelho para ela, imagem especular.

A via imaginária também se estende a mãe, pois não se trata apenas da imagem de um corpo real que a mãe vê, mas da imagem da imagem, ou seja, da imagem que a mãe tem do corpo dessa criança. O olhar da mãe deverá exprimir desejo, ternura e amor, e a vocalização – pulsão invocante – do que é dito desse corpo, desse bebê, deverá estar em perfeita sincronia com esse olhar. Segundo Violante (2010), no registro do processo primário, a zona auditiva obedece ao mesmo tempo modo de funcionamento de qualquer outra zona erógena. O ouvido, assim como outras zonas erógenas, recebe as informações que são metabolizadas pela psique e produz o prazer no encontro objeto-zona complementar. Portanto, fica claro pelo entendimento de Lacan (1953-1954) que, o Eu é referente ao outro e se constitui em relação a ele, numa experiência de linguagem que é mediada pela palavra.

A criança nessa fase possui uma percepção parcial, fragmentada de si mesma, ocorrendo a aquisição de sua imagem totalizadora antes mesmo de sua própria maturação biológica.

Na medida em que a mãe olha e vê a criança como um todo, como um inteiro, a criança se reconhece nesse olhar, estabelecendo sua primeira identificação, ou seja, a identificação primária, o Eu Ideal, sua primeira identificação subjetiva. Esse campo da imagem é relativo ao narcisismo primário.  

Lacan instituiu três tempos para que ocorresse a identificação subjetiva. No primeiro tempo, a criança percebe a imagem de seu corpo como um outro real, ou seja, a criança se sentiria confusa entre si mesma e o outro. No segundo tempo, a criança descobre que o outro que aparece no espelho não é real, mas uma imagem. Porém, ainda não percebe que é sua própria imagem. No terceiro tempo, a criança já tem a convicção de que a imagem que aparece no espelho é de fato a sua, a imagem do seu corpo por inteiro, estruturante para sua identidade: Eu Ideal. Portanto, o “Eu Ideal” é da ordem de uma dimensão imaginária da estrutura subjetiva, implicando um desconhecimento e a alienação de si, do Eu.

Segundo Aulagnier (1975) por Violante, “desde a entrada em funcionamento do processo originário até o funcionamento do processo secundário, a função pensante já se faz presente, porém com características próprias – pensamentos – idéias cuja lógica difere daquela imposta pelo Eu. Segundo a autora, antes do advento do Eu, a criança já faz uso da palavra, e indaga-se quais seriam a natureza e o alcance lógico da palavra no processo primário. Sua hipótese é a de que há uma etapa de transição entre os dois processos, primário e secundário, a qual ele denominou primário-secundário; nessa etapa, a imagem de palavra está coexistindo com a imagem de coisa. Em outros termos, no primário, a imagem de palavra está presente não como signo linguístico, mas somente como significações submetidas à lógica da onipotência do desejo do Outro – as significações primárias”.  

O que ocorre no estádio do espelho é por fim à angústia de um corpo fragmentado dando início a uma dialética mediada pela linguagem, promovendo, assim, a primeira identificação com o outro. Esse processo insere a linguagem fundando o simbólico na subjetividade da criança. Lacan, ao inserir o conceito de linguagem à teoria de Freud, diz que a linguagem compreende uma rede que envolve o indivíduo, estando presente sempre, mesmo antes de seu nascimento, regulamentando as relações, pensamentos e a própria existência, ou seja, o sujeito é assujeitado pela linguagem pela via da alienação com o Grande Outro, através de seu significante mestre, significante do gozo fálico que inscreve a lógica da significação fálica.  

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.




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