quarta-feira, 24 de julho de 2013

O DESEJO DE SER MÃE: DA INFÂNCIA À CONCEPÇÃO

Foto/fonte: http://www.bbel.com.br/qualidade-de-vida/post/dicas-de-como-perder-peso-posparto.aspx

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

A relação mãe-bebê se inicia muito antes da concepção da criança, podemos dizer que de forma inconsciente seu surgimento acontece ainda quando criança, quando essa mulher ainda brincava de boneca e casinha. Esses dois significantes  irão se inscrever na mulher para o resto de sua vida. A criança naturalmente investe o seu afeto no objeto boneca que como dizemos é um forte representante psíquico, e a forma de como ela se relaciona e mesmo o afeto que é investido nesse objeto está muito ligado à dinâmica edipiana que ela vivencia. Segundo Freud, a menina nessa fase fantasia ter um filho do pai.

Esse fantasiar é fruto de seu apaixonamento e identificação com o pai que está na figura do primeiro significante masculino para ela. Este é o período onde a menina vê a mãe como uma rival, colocando-se entre o casal na busca de ser o centro das atenções para o pai. Suas tentativas serão infrutíferas e ao perceber que o lugar que ela tanto deseja já está ocupado pela mãe, mulher de seu pai, objeto amado e desejado por ele, a menina para ter então o amor do pai identifica-se e alia-se a mãe para então ocupar o mesmo lugar para o seu futuro marido ou companheiro, ou seja, irá atrás daquele que tem o falo, a saber, o substituto paterno. A isso Freud denominou de “resolução edípica” e Lacan de “normatização edípica”. Portanto, o desejo de uma mulher por um homem com quem possa ter filhos, representa o investimento de amor objetal que é marcado pela diferença sexual que teve seu primeiro registro na fase edípica.  

O que aos poucos vai se delineando para a menina com os cuidados que tem com sua boneca é o sentimento de maternidade que poderá ser consolidado quando for uma mulher. Quando uma menina diz para uma coleguinha em alto bom som: “Não, essa boneca é minha!”. Ela não está apenas exercendo o seu sentimento de posse, mas exercendo o seu sentimento de posse por um objeto afetivo que possui uma enorme representação como já vimos. Esse sentimento de posse que surgiu  pelo investimento libidinal realizado pela menina através dos cuidados e mimos contribuirá quando for uma mulher para a seguinte certeza: ter filhos não é o mesmo de ser mãe.

O processo de transformação psíquica que a mulher passa em sua gestação envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas, diferente para cada sujeito, que são a transformação de filha para mãe, a da autoimagem corporal e a relação entre sexualidade e maternidade. A cada um desses momentos requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. Somando a esses aspectos, também incluímos uma recapitulação que a gestante faz de sua vida. Nesse momento situações familiares prazerosas ou não poderão retornar no psicológico da mulher, sobretudo, a sua relação com os pais, seus primeiros significantes na vida. Ter sido uma criança desejada e amada e ter passado pelo edípo de forma serena sem maiores conflitos é de suma importância para a futura mãe reverter esses significantes para o bebê que está por vir. Seu desejo pela maternidade que já foi fundado ainda quando criança, o conforto e a segurança de seu marido ou companheiro e um ambiente externo acolhedor, apaziguará a tensão natural de um trabalho de parto, com uma única certeza depois que a criança nascer e a tensão acabar, a mãe olhará para o seu filho e sorrirá, dizendo: “Essa criança é meu filho, fruto de meu desejo!” Coisa que no passado ela dizia: “Não, essa boneca é minha!”.


* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia. 

Um comentário:

  1. Me lembro da minha infância inteira, e nunca pensei em minha mãe como rival, e minhas bonecas eram sim minhas filhas e meu pai e minha mãe eram os avós Eu em!!!

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