Fonte: http://jajuka.zip.net/
Por Jorge Roberto Fragoso Lins *
O fenômeno bullying está
presente entre os adultos, adolescentes e crianças, não existindo uma classe ou
setor social que determine sua ocorrência mais significativa. São muitos os
cenários que se dão sua prática dentre eles: no ambiente de trabalho; na
vizinhança; pela internet, onde os bullies (agressores) utilizam-se das redes
sociais para atacar suas vítimas, conhecidamente como ciberbullying, nas
escolas e em tantos outros lugares de convívio social. Entretanto, deve se
salientar que a prática do bullying não é recente na história da humanidade,
porém, sua ocorrência vem se acentuando e tomando novas configurações e, por
sua vez, desencadeando um aumento e agravamento para quem sofre o bullying.
Mas, o que representa o bullying? Ou, melhor, o que sua prática
constitui para a sociedade e quem são seus praticantes? ... O bullying constitui-se
em uma subcategoria bem delimitada de agressão ou comportamento agressivo,
caracterizado pela repetitividade e assimetria de forças (OLWEUS, 1993).
Outro aspecto a ser mencionado deste
lamentável fenômeno é que ninguém quer defender uma vítima de bullying e
o motivo desta esquiva fica bem claro, o medo de também ser a próxima vítima.
Nas escolas, as crianças que não compactuam com as agressões se calam por medo
de represálias, os professores buscam contemporizar o fato, e por sua vez,
diretores e outras autoridades escolares ficam, na maioria das vezes, de mãos e
pés atados por medo que o agressor ou agressores se voltem contra eles, contra
os bens materiais da escola, ou mesmo por medo da repercussão do caso na
comunidade, trazendo má fama à escola.
Atualmente o cenário que se verifica é
que o fenômeno vem se dando de forma crescente e preocupante, deixando marcas
em suas vítimas que poderão ficar para o resto de suas vidas, sobretudo, quando
o alvo das agressões são as crianças e adolescentes ou, sejam, os futuros
adultos que irão fomentar a força de trabalho de nosso país. Compreender melhor
o fenômeno é expandir o olhar não apenas sobre o bullying, mas,
sobretudo, de todo o contexto social e psicológico que se vive.
Em estudos de casos atendidos em clínicas foi observado que os
envolvidos em bullying apresentam altos índices de estresse que desencadeia
muitas doenças da atualidade devido à baixa imunidade, sendo observado com mais
intensidade nas crianças menores, no horário de irem à escola (FANTE e PEDRA,
2008). Os autores descrevem abaixo alguns sintomas que se apresentam nas
vítimas de bullying:
Dores de cabeça,
tonturas, náuseas, ânsia de vômitos, dor no estômago, diarréia, enurese,
sudorese, febre, taquicardia, tensão, dores musculares, excessos de sono ou
insônia, pesadelos, perda ou aumento do apetite, dores generalizadas, dentre
outros (p.83).
Pelos sintomas apresentados fica claro
o quadro psicossomático apresentado por essas crianças tendo como único agente
os maus-tratos do bullying. Em extensão ou, melhor dizendo,
sobretudo, a esses sintomas existem os danos psicológicos que são observados
devido à prolongada exposição dos maus-tratos. Os ataques podem causar danos
irreparáveis ao longo da vida do indivíduo afetando o desenvolvimento cognitivo
e emocional. Dentre os danos observados estão
à ansiedade, tensão, medo, raiva,
irritabilidade, dificuldade de concentração, déficit de atenção, angústia,
tristeza, desgosto, apatia, cansaço, insegurança, retraimento, sensação de
impotência e rejeição, sentimentos de abandono e de inferioridade, mágoa,
oscilações do humor, desejo de vingança e pensamento suicidas, depressão,
fobias e hiperatividade, entre outros (FANTE e PEDRA, 2008, p.84).
Os autores ainda acrescentam que,
quando uma criança vivencia situações constrangedoras de maneira muito repetida
sua mente tende ao longo do tempo a gerar pensamentos com emoções
desagradáveis, provocando transtornos graves, levando muitas vezes ao suicídio
como também a prática de homicídio. Segundo Fante & Pedra (op. cit),
o bullying também afeta a capacidade de aprendizagem e o
desenvolvimento da inteligência visto que, durante toda a vida, o homem
registra em sua mente todas as experiências positivas e negativas desde o
útero. É neste processo de acúmulo de informações que o indivíduo constrói sua
auto-imagem e auto-estima, desencadeando um tipo de comportamento diante de
diversos estímulos. Dependendo do tipo de experiências vivenciadas e
registradas a pessoa apresentará sua auto-afirmação.
A pedagoga e especialista em distúrbios
de aprendizagem, Karen Kaufmann Sacchetto, mestranda em Distúrbios do
Desenvolvimento, no artigo em que escreveu para o site Guia do bebê, 2011,
intitulado “A agressividade infantil – Bullying”, ao mencionar que
por volta dos três anos as crianças já acrescentam milhares de palavras ao seu
vocabulário e começam a descobrir o prazer em brincar com o outro e se
comunicar, começando a sair de seu egocentrismo e passando a se socializar
melhor com seus iguais, lembra que o comportamento agressivo intencional ainda
aparece esporadicamente, mas via de regra não terá uma continuidade. Porém, por
volta dos quatro, cinco e seis anos se verificam alguns comportamentos de
discriminação que podem ter repetidamente o mesmo alvo. É justamente nesta
fase, declara Sacchetto, que aparecem os conflitos, “panelinhas”, provocações e
humilhações. É aqui que pais e educadores devem estar atentos para poder inibir
esse comportamento antes que ele se instale e seja mais difícil de eliminá-lo.
Outro aspecto reforçador, segundo a
teoria psicanalítica de Freud, é o de que as crianças por volta dos seus seis a
sete anos de idade já estão com suas personalidades formadas e pelo que se é
observado em muitas famílias, pais que por se acharem culpados por ficar muito
tempo longe de seus filhos por causa de suas atividades profissionais, buscam
preencher a lacuna de suas ausências dando tudo que seus filhos pedem e o pior,
não impondo limites a certos comportamentos anti-sociais apresentados pelos
seus filhos. Esta falta que se mostra quase generalizada em muitas sociedades,
inclusive a brasileira, fomenta muitos outros fenômenos sociais que se tornam,
infelizmente, em boa parte das vezes, em manchetes de policiais. O
estabelecimento de normas na educação familiar poderá livrar crianças,
adolescentes e mais adiante, adultos, de desatinos e conflitos que poderão
marcar pelo resto de suas vidas.
Sacchetto (2011) cita no mesmo artigo
um caso típico de bullying, e o mais inacreditável é que uma
professora que deveria ser a primeira a combater qualquer comportamento
semelhante juntou-se aos protagonistas do lamentável episódio, constrangendo uma
criança em plena sala de aula. O caso tornou-se um artigo escrito pelos
jornalistas Antônio Gois e Armando Pereira Filho para a Folha de São Paulo. O
artigo foi intitulado “Violência moral pode levar jovem a reações
extremadas”.
O artigo fez parte da edição do dia
20/02/2003 do referido jornal e julgamos necessário mencionarmos a título de
enfocar o despreparo de certos profissionais da educação. A história se refere
a um menino de 4 anos de idade que era tímido e falava pouco. Diante do
comportamento retraído da criança os coleguinhas e a própria professora
“brincavam” dizendo que ele havia perdido a língua. A consequência desta
brincadeira foi drástica para a criança zombada, ocasionando um bloqueio na
fala e no desenvolvimento da linguagem da criança. “De repente, R. passou
a ficar mudo na frente de pessoas estranhas à família. Nenhum exame apontava
causas físicas para a disfunção. Sua mãe, a advogada C., descobriu que o
garoto, por ser tímido, quase não falava na sua classe, em uma escolinha de
educação infantil em Santos (SP)”.
Fante e Pedra (op. cit.) descrevem que
os autores de bullying costumam se distanciar dos trabalhos
propostos na escola, apresentando dificuldade de seguir regras por se acharem
auto-suficientes e por serem prepotentes, tendo como consequência uma queda no
aprendizado e falta de interesse pelas tarefas escolares. Geralmente,
demonstram comportamentos anti-sociais por causa da falta de limites, são
avessos as regras por se sentirem superiores. Neste contexto, percebem-se duas coisas:
primeira, que essas crianças ou adolescentes necessitam de ajuda para que
possam se desvencilhar desse comportamento; e a segunda, é que não podemos
descartar a possibilidade de que a falta de lei e de regras pela omissão dos
pais tenha favorecido o comportamento dos bullies.
Silva (2010) comenta que todo professor
deve proceder de forma que seu comportamento sirva de exemplo para seus alunos.
No entanto, por vezes, a escola se depara com circunstâncias em que o professor
se destitui de suas obrigações e acaba criando situações que podem ameaçar,
constranger ou colocar em risco a integridade física e/ou psicológica de um
estudante. Nesses casos, cabe à direção apurar os fatos e, se for confirmada a
responsabilidade do profissional, deve aplicar-lhe as penas previstas no regime
da instituição. Se necessário, o caso deverá ser encaminhado a instâncias
superiores.
A autora continua dizendo que, se a
escola não se mostrar capaz de reparar os prejuízos provocados pelo professor à
vítima (o aluno), seus responsáveis deverão recorrer à justiça, solicitando
indenização por danos morais e ressarcimento de despesas, quando houver
necessidade de atendimento médicos e psicológicos.
Fante (2005) ressalta que quando uma
pessoa sofre algum tipo de agressão a tendência é produzir emoções retraídas,
tensas e tímidas, afetando sua capacidade de defesa. Esta autora ainda afirma
que no momento da agressão sua mente é bloqueada, frustrando sua inteligência,
gerando “brancos e sensações de impotência, travando o acesso aos territórios
onde estão arquivados os seus repertórios comportamentais de defesa, caso os
tenha” (p.194).
Desse modo, Fante (2005) descreve que
as agressões sofridas na escola contribuem para que a vítima permaneça sempre
com o mesmo tipo de comportamento como: isolamento do grupo, fuga de olhares de
outros alunos, cabeça sempre baixa, vergonha de qualquer atitude e busca
frequente de companhia adulta para se proteger.
São muitas as reações que poderão
sobrevir nesses casos, assinalando, por exemplo, para um desinteresse pelos
estudos, o de frequentar a escola,
depressão, suicídio ou mesmo reações mais extremadas de violência ou, heteroagressiva,
como no caso de Wellington Menezes de Oliveira, que quando criança sofreu
o bullying e as agressões psicológicas sofridas jamais foram
superadas, permanecendo conflitantemente vivas e desestruturantes para ele,
chegando ao ponto de favorecer a instalação de sua esquizofrenia. Este também é
um dado importante a ser contabilizado, crianças que já possuem traços de uma
personalidade psicótica ao serem expostas a traumas tão severos como os
relacionados ao bullying poderão desenvolver mais rapidamente
uma patologia.
Pesquisas em desenvolvimento de gênero
mostram que meninas e meninos diferem na apresentação de vários problemas de
desenvolvimento. Sexo e gênero são importantes fontes de variabilidade no
comportamento das crianças (BELL, FOSTER, & MASH, 2005). Somadas a estas
características também está à socialização que também diferem entre meninos e
meninas. No que se refere ao bullying esta diferença também
não foge a regra.
Por muito tempo os pesquisadores
de bullying detiveram-se em estudar apenas os meninos, pois
consideravam que este fenômeno ocorria com muito mais frequência nos indivíduos
do sexo masculino (BERGER, 2007). Mais recentemente reconheceram-no também como
um problema das meninas, mas, provavelmente, com uma apresentação única. Olweus
(1993) acreditava que o bullying ocorria com pouca frequência
nas meninas. A forma como o bullying apresenta-se nas meninas
é geralmente despercebida, como se elas não fossem suspeitas de comportamento
agressivo ou bullying da mesma forma que os meninos (VAIL,
2002). Este dado é reforçado por Lisboa (2005), que identifica que os meninos são
classificados pelos seus colegas como agressores e como vítimas/agressores com
uma frequência maior do que as meninas. Para Liang e cols. (2007), a
agressividade e a vitimização são de ocorrência mais comum entre os meninos. Já
Gini e Pozzoli (2006) afirmam que a diferença entre meninos e meninas está no
tipo de agressão utilizada e não na incidência de agressão nos subgrupos de
meninos e meninas.
Algumas pesquisas apontam diferenças
entre meninas e meninos em relação ao bullying, visto que comumente
as meninas identificam-se mais como vítimas e testemunhas e os meninos mais
como agressores e vítimas/agressores (BANDEIRA, 2009). As meninas geralmente
expressam atitudes mais positivas em relação às vítimas, são mais empáticas e
dão mais suporte que os meninos (GINI & POZZOLI, 2006). Os meninos tendem a
utilizar a agressão física como empurrões, chutes e socos. Já as meninas
utilizam formas mais indiretas de bullying como agressão verbal,
insulto, mentira e fofoca (Bandeira, 2009). Nas adolescentes, em particular, é
comum o uso de apelidos e fofocas (VAIL, 2002). Os meninos afirmam que são mais
agredidos por outros meninos; enquanto as meninas, afirmam que são agredidas
principalmente por outras meninas. Meninas e meninos também diferem na maneira
como percebem e nas suas atitudes em relação ao bullying (BANDEIRA,
2009).
Crick e Grotpeter (1995) mencionaram o
termo agressividade relacional para denominar as ações provocadas pelas
meninas, nas quais as interações sociais são manipuladas para causar
prejuízo no relacionamento entre os pares. Isso envolve ameaças de expulsão do
grupo, exclusão proposital e comentários prejudiciais a respeito de alguém com
o fim de causar a rejeição do grupo de pares. Os autores pressupõem que as
meninas utilizam mais esse tipo de abuso que os meninos já que, para elas, o
que mais importa é o relacionamento entre o mesmo gênero.
O interesse em mencionar a mobilidade
das ações de cada gênero está em destacar, também, os aspectos psicológicos em
torno do envolvimento e prática do bullying, salientando a forma de
pensar que ocorre entre meninos e meninas e suas respectivas necessidades que
geram esta equivocada auto-afirmação ou, mesmo, esta linguagem que vem a
configurar um pedido de socorro de uma pessoa que está cheia de problemas e não
sabendo resolvê-los, esboçam seus conflitos em ações desabonadas e
equivocadas.
Segundo Lisboa (2005), as relações
didáticas e íntimas parecem ser mais importantes para as meninas que para os
meninos. As meninas tendem a se importar mais com o retorno dos pares para
formar seu autovalor, o que torna as adolescentes mais suscetíveis aos
comentários em relação à sua aparência física (CRICK & GROTPETER, 1995).
Conforme Lisboa (2005) é permitido socialmente às meninas manter relações de
amizades íntimas e próximas com um par do mesmo sexo. Já os meninos são
vulneráveis a preconceitos, podendo, por isso, tornarem-se vítimas.
Retornando ao caso Wellington, fica
claro o efeito nefasto que o bullying desencadeou nele. A
experiência traumática vivida gerou não apenas o trauma em si, mas uma série de
efeitos cascatas que fomentou a sua patologia. Os maus-tratos vividos e
recalcados nunca deixaram de existir na vida dele, trazendo sofrimento e
revolta. Esse afeto torturado por essa amargura e angústia gerou muito
provavelmente o sentimento de vingança em relação àqueles que praticaram a
violência com ele, ficando claro que no psicológico de Weliington existiu uma
fixação àquela época e que, norteou sua vida até o final de sua existência.
Esta fixação fez com que ele ao tirar naquelas crianças estivesse atirando e
matando as crianças que abusaram dele, ou seja, ele estava atirando e matando
os seus próprios fantasmas que desde daquela época os acompanhava.
Silva (2010) nos traz um caso oposto ao
que vimos anteriormente, agora o bullying partiu de um aluno
para um professor, gerando uma situação muito difícil e embaraçada para o
então, professor. Silva (2010) relata que Fernando, um jovem de classe média e
que cursava o segundo ano do ensino médio, era um dos meninos mais populares do
colégio. Perfil “gostosão-sarado”, cercado por garotas e por seus “discípulos”,
não se furtava em fazer arruaças, zombarias e desafiar colegas e professores.
Pouco dedicado aos estudos, suas notas sempre foram medíocres, passando
de ano com aqueles empurrõezinhos peculiares das “colas” e proteção de alguns
profissionais da instituição. Quando ficou em recuperação em história não
obteve sucesso em suas negociações com o professor. Fernando não titubeou:
passou a difamá-lo como pedófilo, declarando que ele assediava as crianças da
escola. A notícia logo se espalhou pelos corredores e através de mensagens de
celulares, na internet, pelo ti-ti-ti dos seus adeptos. Para que não houvesse
“máculas” na reputação da escola nem problemas com os pais de Fernando, a
direção optou por demitir o professor. A vítima reuniu todas as provas
possíveis (testemunhas, documentos da internet, boletins de ocorrência),
procurou a ajuda de profissionais da área jurídica e, hoje, está prestes a
reaver não somente seu status de professor exemplar, mas principalmente sua
dignidade aviltada.
Esta história mostra não só o perfil do
agressor do bullying, mas o que ele é capaz em fazer para
prejudicar uma pessoa. Neste caso, o difamador se sentiu contrariado em sua
vontade e criou todo este mal-estar, mas, em outros casos, não existe qualquer
contrariedade para que se produza o ataque e a violência moral, física e
psicológica. Neste episódio se deve registrar, também, as sequelas traumáticas
que muito provavelmente se inscreveram no psiquismo desse professor e que
poderão mudar o seu comportamento como um todo, tanto na vida pessoal como na
profissional. Sequelas como ansiedade, angústia, perda do prazer e da motivação
de ensinar, depressão, os mais diversos medos de se relacionar com as pessoas,
tornando-se uma pessoa desconfiada de tudo e de todos, medo de manter uma
relação professor-aluno mais próxima, poderão advir de uma forma tal que afete
a vida pessoal e profissional para o resto de sua vida.
Algumas crianças são tanto vítimas como
agressores e são denominadas de vítima/agressor. Estas crianças, provavelmente,
apresentam uma combinação de baixa autoestima, atitudes agressivas e
provocativas e prováveis alterações psicológicas, merecendo atenção especial. Podem
ser depressivas, ansiosas, inseguras e inoportunas, procurando humilhar os
colegas para encobrir suas limitações (LOPES, 2005). As vítimas/agressores têm
uma maior probabilidade de apresentar sérios problemas de comportamento
externalizado e são, em grande frequência, maltratadas por seus colegas.
Experienciam dificuldades com o comportamento impulsivo, reatividade emocional
e hiperatividade. Diferenciam-se dos alvos típicos por serem impopulares e pelo
alto índice de rejeição entre seus colegas (ROBIN, TOBLINA, SCHWARTZA, GORMANB,
& ABOU-EZZEDDINEA, 2005).
O grupo de vítimas/agressores apresenta
os maiores números de problemas de conduta, problemas na escola, problemas com
o grupo de iguais, sintomas psicossomáticos e psicológicos, maiores
encaminhamentos aos serviços psiquiátricos e uma maior probabilidade de
persistência no seu envolvimento em bullying (LIANG, FLISHER,
& LOMBARD, 2007). As vítimas/agressores apresentam certas características
como sintomas de depressão, ansiedade e outras formas de estresse
internalizado. Alguns pesquisadores apresentam a hipótese de que o
comportamento agressivo destas crianças reflete um estado de pobreza em modular
a raiva e a irritabilidade maior do que a capacidade de utilização de
estratégias sociais com um objetivo orientado (ROBIN E COLS., 2005). Liang
& cols. (2007) afirmam que, juntamente com o grupo de agressores, as
vítimas/agressores estão mais suscetíveis ao uso excessivo de cigarros, álcool
e outras substâncias. Este grupo apresenta o risco mais elevado para apresentar
severas ideações suicidas. Apresentam risco aumentado para vários tipos de
comportamento de risco, violência e comportamento antissocial, quando
comparadas a crianças que não estão envolvidas em bullying (LIANG
E COLS., 2007).
Em se tratando de vítimas/agressores, é
importante fazer distinção entre comportamento agressivo proativo e reativo. O
comportamento agressivo proativo envolve tentativas de influenciar o outro
através de meios aversivos, em uma situação que não foi provocada (GINI &
POZZOLI, 2006). É um comportamento voluntário, deliberado e influenciado por
reforços externos (Lisboa, 2005). Este é o tipo de agressão utilizada pelos
agressores típicos. Já o comportamento agressivo reativo é um ato impulsivo em
resposta a uma provocação ou ameaça percebida (GINI & POZZOLI, 2006) e
consiste em uma resposta defensiva de raiva (LISBOA, 2005). Este é o tipo de
agressão utilizada pelas vítimas/agressores.
O bullying ainda se
evidencia como um tema bastante atual e intrigante, pois mesmo não sendo um
acontecimento recente, observa-se claramente que ele é um fenômeno interligado
e que interage a cada momento vivido por uma sociedade, sobretudo, seu efeito
se torna ainda maior e sua prática mais acentuada, quando nos situamos numa
sociedade globalizada e sem muitas barreiras que possam manter a cultura desse
ou daquele povo mais preservada de culturas externas. Portanto, diante do que
foi mencionado sobre a problemática do fenômeno e da ebulição social que nos
defrontamos dia a dia, dando mostra que tal ebulição só tende a intensificar, o
cuidado e a pesquisa a respeito do assunto também deverão se ampliar e novos
olhares deverão compartilhar como observadores e cuidadores de uma sociedade
que dia após dia está adoecendo. Este é o nosso papel, esta é a nossa obrigação
como psicólogos.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é
sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do
8º período de psicologia.
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