terça-feira, 9 de julho de 2013

O BULLYING E SUAS CONSEQUÊNCIAS PSICOSSOCIAIS


Por Jorge Roberto Fragoso Lins *

O fenômeno bullying está presente entre os adultos, adolescentes e crianças, não existindo uma classe ou setor social que determine sua ocorrência mais significativa. São muitos os cenários que se dão sua prática dentre eles: no ambiente de trabalho; na vizinhança; pela internet, onde os bullies (agressores) utilizam-se das redes sociais para atacar suas vítimas, conhecidamente como ciberbullying, nas escolas e em tantos outros lugares de convívio social. Entretanto, deve se salientar que a prática do bullying não é recente na história da humanidade, porém, sua ocorrência vem se acentuando e tomando novas configurações e, por sua vez, desencadeando um aumento e agravamento para quem sofre o bullying. Mas, o que representa o bullying? Ou, melhor, o que sua prática constitui para a sociedade e quem são seus praticantes? ... O bullying constitui-se em uma subcategoria bem delimitada de agressão ou comportamento agressivo, caracterizado pela repetitividade e assimetria de forças (OLWEUS, 1993).

Outro aspecto a ser mencionado deste lamentável fenômeno é que ninguém quer defender uma vítima de bullying e o motivo desta esquiva fica bem claro, o medo de também ser a próxima vítima. Nas escolas, as crianças que não compactuam com as agressões se calam por medo de represálias, os professores buscam contemporizar o fato, e por sua vez, diretores e outras autoridades escolares ficam, na maioria das vezes, de mãos e pés atados por medo que o agressor ou agressores se voltem contra eles, contra os bens materiais da escola, ou mesmo por medo da repercussão do caso na comunidade, trazendo má fama à escola.

Atualmente o cenário que se verifica é que o fenômeno vem se dando de forma crescente e preocupante, deixando marcas em suas vítimas que poderão ficar para o resto de suas vidas, sobretudo, quando o alvo das agressões são as crianças e adolescentes ou, sejam, os futuros adultos que irão fomentar a força de trabalho de nosso país. Compreender melhor o fenômeno é expandir o olhar não apenas sobre o bullying, mas, sobretudo, de todo o contexto social e psicológico que se vive.

Em estudos de casos atendidos em clínicas foi observado que os envolvidos em bullying apresentam altos índices de estresse que desencadeia muitas doenças da atualidade devido à baixa imunidade, sendo observado com mais intensidade nas crianças menores, no horário de irem à escola (FANTE e PEDRA, 2008). Os autores descrevem abaixo alguns sintomas que se apresentam nas vítimas de bullying:


Dores de cabeça, tonturas, náuseas, ânsia de vômitos, dor no estômago, diarréia, enurese, sudorese, febre, taquicardia, tensão, dores musculares, excessos de sono ou insônia, pesadelos, perda ou aumento do apetite, dores generalizadas, dentre outros (p.83).


Pelos sintomas apresentados fica claro o quadro psicossomático apresentado por essas crianças tendo como único agente os maus-tratos do bullying. Em extensão ou, melhor dizendo, sobretudo, a esses sintomas existem os danos psicológicos que são observados devido à prolongada exposição dos maus-tratos. Os ataques podem causar danos irreparáveis ao longo da vida do indivíduo afetando o desenvolvimento cognitivo e emocional. Dentre os danos observados estão


à ansiedade, tensão, medo, raiva, irritabilidade, dificuldade de concentração, déficit de atenção, angústia, tristeza, desgosto, apatia, cansaço, insegurança, retraimento, sensação de impotência e rejeição, sentimentos de abandono e de inferioridade, mágoa, oscilações do humor, desejo de vingança e pensamento suicidas, depressão, fobias e hiperatividade, entre outros (FANTE e PEDRA, 2008, p.84).


Os autores ainda acrescentam que, quando uma criança vivencia situações constrangedoras de maneira muito repetida sua mente tende ao longo do tempo a gerar pensamentos com emoções desagradáveis, provocando transtornos graves, levando muitas vezes ao suicídio como também a prática de homicídio. Segundo Fante & Pedra (op. cit), o bullying também afeta a capacidade de aprendizagem e o desenvolvimento da inteligência visto que, durante toda a vida, o homem registra em sua mente todas as experiências positivas e negativas desde o útero. É neste processo de acúmulo de informações que o indivíduo constrói sua auto-imagem e auto-estima, desencadeando um tipo de comportamento diante de diversos estímulos. Dependendo do tipo de experiências vivenciadas e registradas a pessoa apresentará sua auto-afirmação.

A pedagoga e especialista em distúrbios de aprendizagem, Karen Kaufmann Sacchetto, mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento, no artigo em que escreveu para o site Guia do bebê, 2011, intitulado “A agressividade infantil – Bullying”, ao mencionar que por volta dos três anos as crianças já acrescentam milhares de palavras ao seu vocabulário e começam a descobrir o prazer em brincar com o outro e se comunicar, começando a sair de seu egocentrismo e passando a se socializar melhor com seus iguais, lembra que o comportamento agressivo intencional ainda aparece esporadicamente, mas via de regra não terá uma continuidade. Porém, por volta dos quatro, cinco e seis anos se verificam alguns comportamentos de discriminação que podem ter repetidamente o mesmo alvo. É justamente nesta fase, declara Sacchetto, que aparecem os conflitos, “panelinhas”, provocações e humilhações. É aqui que pais e educadores devem estar atentos para poder inibir esse comportamento antes que ele se instale e seja mais difícil de eliminá-lo.

Outro aspecto reforçador, segundo a teoria psicanalítica de Freud, é o de que as crianças por volta dos seus seis a sete anos de idade já estão com suas personalidades formadas e pelo que se é observado em muitas famílias, pais que por se acharem culpados por ficar muito tempo longe de seus filhos por causa de suas atividades profissionais, buscam preencher a lacuna de suas ausências dando tudo que seus filhos pedem e o pior, não impondo limites a certos comportamentos anti-sociais apresentados pelos seus filhos. Esta falta que se mostra quase generalizada em muitas sociedades, inclusive a brasileira, fomenta muitos outros fenômenos sociais que se tornam, infelizmente, em boa parte das vezes, em manchetes de policiais. O estabelecimento de normas na educação familiar poderá livrar crianças, adolescentes e mais adiante, adultos, de desatinos e conflitos que poderão marcar pelo resto de suas vidas.  

Sacchetto (2011) cita no mesmo artigo um caso típico de bullying, e o mais inacreditável é que uma professora que deveria ser a primeira a combater qualquer comportamento semelhante juntou-se aos protagonistas do lamentável episódio, constrangendo uma criança em plena sala de aula. O caso tornou-se um artigo escrito pelos jornalistas Antônio Gois e Armando Pereira Filho para a Folha de São Paulo. O artigo foi intitulado “Violência moral pode levar jovem a reações extremadas”.  

O artigo fez parte da edição do dia 20/02/2003 do referido jornal e julgamos necessário mencionarmos a título de enfocar o despreparo de certos profissionais da educação. A história se refere a um menino de 4 anos de idade que era tímido e falava pouco. Diante do comportamento retraído da criança os coleguinhas e a própria professora “brincavam” dizendo que ele havia perdido a língua. A consequência desta brincadeira foi drástica para a criança zombada, ocasionando um bloqueio na fala e no desenvolvimento da linguagem da criança. “De repente, R. passou a ficar mudo na frente de pessoas estranhas à família. Nenhum exame apontava causas físicas para a disfunção. Sua mãe, a advogada C., descobriu que o garoto, por ser tímido, quase não falava na sua classe, em uma escolinha de educação infantil em Santos (SP)”. 

Fante e Pedra (op. cit.) descrevem que os autores de bullying costumam se distanciar dos trabalhos propostos na escola, apresentando dificuldade de seguir regras por se acharem auto-suficientes e por serem prepotentes, tendo como consequência uma queda no aprendizado e falta de interesse pelas tarefas escolares. Geralmente, demonstram comportamentos anti-sociais por causa da falta de limites, são avessos as regras por se sentirem superiores. Neste contexto, percebem-se duas coisas: primeira, que essas crianças ou adolescentes necessitam de ajuda para que possam se desvencilhar desse comportamento; e a segunda, é que não podemos descartar a possibilidade de que a falta de lei e de regras pela omissão dos pais tenha favorecido o comportamento dos bullies.  

Silva (2010) comenta que todo professor deve proceder de forma que seu comportamento sirva de exemplo para seus alunos. No entanto, por vezes, a escola se depara com circunstâncias em que o professor se destitui de suas obrigações e acaba criando situações que podem ameaçar, constranger ou colocar em risco a integridade física e/ou psicológica de um estudante. Nesses casos, cabe à direção apurar os fatos e, se for confirmada a responsabilidade do profissional, deve aplicar-lhe as penas previstas no regime da instituição. Se necessário, o caso deverá ser encaminhado a instâncias superiores. 

A autora continua dizendo que, se a escola não se mostrar capaz de reparar os prejuízos provocados pelo professor à vítima (o aluno), seus responsáveis deverão recorrer à justiça, solicitando indenização por danos morais e ressarcimento de despesas, quando houver necessidade de atendimento médicos e psicológicos.

Fante (2005) ressalta que quando uma pessoa sofre algum tipo de agressão a tendência é produzir emoções retraídas, tensas e tímidas, afetando sua capacidade de defesa. Esta autora ainda afirma que no momento da agressão sua mente é bloqueada, frustrando sua inteligência, gerando “brancos e sensações de impotência, travando o acesso aos territórios onde estão arquivados os seus repertórios comportamentais de defesa, caso os tenha” (p.194).

Desse modo, Fante (2005) descreve que as agressões sofridas na escola contribuem para que a vítima permaneça sempre com o mesmo tipo de comportamento como: isolamento do grupo, fuga de olhares de outros alunos, cabeça sempre baixa, vergonha de qualquer atitude e busca frequente de companhia adulta para se proteger.

São muitas as reações que poderão sobrevir nesses casos, assinalando, por exemplo, para um desinteresse pelos estudos, o de frequentar a escola,  depressão, suicídio ou mesmo reações mais extremadas de violência ou, heteroagressiva, como no caso de Wellington Menezes de Oliveira, que quando criança sofreu o bullying e as agressões psicológicas sofridas jamais foram superadas, permanecendo conflitantemente vivas e desestruturantes para ele, chegando ao ponto de favorecer a instalação de sua esquizofrenia. Este também é um dado importante a ser contabilizado, crianças que já possuem traços de uma personalidade psicótica ao serem expostas a traumas tão severos como os relacionados ao bullying poderão desenvolver mais rapidamente uma patologia.    

Pesquisas em desenvolvimento de gênero mostram que meninas e meninos diferem na apresentação de vários problemas de desenvolvimento. Sexo e gênero são importantes fontes de variabilidade no comportamento das crianças (BELL, FOSTER, & MASH, 2005). Somadas a estas características também está à socialização que também diferem entre meninos e meninas. No que se refere ao bullying esta diferença também não foge a regra.

Por muito tempo os pesquisadores de bullying detiveram-se em estudar apenas os meninos, pois consideravam que este fenômeno ocorria com muito mais frequência nos indivíduos do sexo masculino (BERGER, 2007). Mais recentemente reconheceram-no também como um problema das meninas, mas, provavelmente, com uma apresentação única. Olweus (1993) acreditava que o bullying ocorria com pouca frequência nas meninas. A forma como o bullying apresenta-se nas meninas é geralmente despercebida, como se elas não fossem suspeitas de comportamento agressivo ou bullying da mesma forma que os meninos (VAIL, 2002). Este dado é reforçado por Lisboa (2005), que identifica que os meninos são classificados pelos seus colegas como agressores e como vítimas/agressores com uma frequência maior do que as meninas. Para Liang e cols. (2007), a agressividade e a vitimização são de ocorrência mais comum entre os meninos. Já Gini e Pozzoli (2006) afirmam que a diferença entre meninos e meninas está no tipo de agressão utilizada e não na incidência de agressão nos subgrupos de meninos e meninas.

Algumas pesquisas apontam diferenças entre meninas e meninos em relação ao bullying, visto que comumente as meninas identificam-se mais como vítimas e testemunhas e os meninos mais como agressores e vítimas/agressores (BANDEIRA, 2009). As meninas geralmente expressam atitudes mais positivas em relação às vítimas, são mais empáticas e dão mais suporte que os meninos (GINI & POZZOLI, 2006). Os meninos tendem a utilizar a agressão física como empurrões, chutes e socos. Já as meninas utilizam formas mais indiretas de bullying como agressão verbal, insulto, mentira e fofoca (Bandeira, 2009). Nas adolescentes, em particular, é comum o uso de apelidos e fofocas (VAIL, 2002). Os meninos afirmam que são mais agredidos por outros meninos; enquanto as meninas, afirmam que são agredidas principalmente por outras meninas. Meninas e meninos também diferem na maneira como percebem e nas suas atitudes em relação ao bullying (BANDEIRA, 2009).

Crick e Grotpeter (1995) mencionaram o termo agressividade relacional para denominar as ações provocadas pelas meninas, nas quais as interações sociais são manipuladas para causar prejuízo no relacionamento entre os pares. Isso envolve ameaças de expulsão do grupo, exclusão proposital e comentários prejudiciais a respeito de alguém com o fim de causar a rejeição do grupo de pares. Os autores pressupõem que as meninas utilizam mais esse tipo de abuso que os meninos já que, para elas, o que mais importa é o relacionamento entre o mesmo gênero. 

O interesse em mencionar a mobilidade das ações de cada gênero está em destacar, também, os aspectos psicológicos em torno do envolvimento e prática do bullying, salientando a forma de pensar que ocorre entre meninos e meninas e suas respectivas necessidades que geram esta equivocada auto-afirmação ou, mesmo, esta linguagem que vem a configurar um pedido de socorro de uma pessoa que está cheia de problemas e não sabendo resolvê-los, esboçam seus conflitos em ações desabonadas e equivocadas.  

Segundo Lisboa (2005), as relações didáticas e íntimas parecem ser mais importantes para as meninas que para os meninos. As meninas tendem a se importar mais com o retorno dos pares para formar seu autovalor, o que torna as adolescentes mais suscetíveis aos comentários em relação à sua aparência física (CRICK & GROTPETER, 1995). Conforme Lisboa (2005) é permitido socialmente às meninas manter relações de amizades íntimas e próximas com um par do mesmo sexo. Já os meninos são vulneráveis a preconceitos, podendo, por isso, tornarem-se vítimas.

Retornando ao caso Wellington, fica claro o efeito nefasto que o bullying desencadeou nele. A experiência traumática vivida gerou não apenas o trauma em si, mas uma série de efeitos cascatas que fomentou a sua patologia. Os maus-tratos vividos e recalcados nunca deixaram de existir na vida dele, trazendo sofrimento e revolta. Esse afeto torturado por essa amargura e angústia gerou muito provavelmente o sentimento de vingança em relação àqueles que praticaram a violência com ele, ficando claro que no psicológico de Weliington existiu uma fixação àquela época e que, norteou sua vida até o final de sua existência. Esta fixação fez com que ele ao tirar naquelas crianças estivesse atirando e matando as crianças que abusaram dele, ou seja, ele estava atirando e matando os seus próprios fantasmas que desde daquela época os acompanhava.  

Silva (2010) nos traz um caso oposto ao que vimos anteriormente, agora o bullying partiu de um aluno para um professor, gerando uma situação muito difícil e embaraçada para o então, professor. Silva (2010) relata que Fernando, um jovem de classe média e que cursava o segundo ano do ensino médio, era um dos meninos mais populares do colégio. Perfil “gostosão-sarado”, cercado por garotas e por seus “discípulos”, não se furtava em fazer arruaças, zombarias e desafiar colegas e professores. Pouco dedicado aos estudos, suas notas sempre foram medíocres,  passando de ano com aqueles empurrõezinhos peculiares das “colas” e proteção de alguns profissionais da instituição. Quando ficou em recuperação em história não obteve sucesso em suas negociações com o professor. Fernando não titubeou: passou a difamá-lo como pedófilo, declarando que ele assediava as crianças da escola. A notícia logo se espalhou pelos corredores e através de mensagens de celulares, na internet, pelo ti-ti-ti dos seus adeptos. Para que não houvesse “máculas” na reputação da escola nem problemas com os pais de Fernando, a direção optou por demitir o professor. A vítima reuniu todas as provas possíveis (testemunhas, documentos da internet, boletins de ocorrência), procurou a ajuda de profissionais da área jurídica e, hoje, está prestes a reaver não somente seu status de professor exemplar, mas principalmente sua dignidade aviltada.

Esta história mostra não só o perfil do agressor do bullying, mas o que ele é capaz em fazer para prejudicar uma pessoa. Neste caso, o difamador se sentiu contrariado em sua vontade e criou todo este mal-estar, mas, em outros casos, não existe qualquer contrariedade para que se produza o ataque e a violência moral, física e psicológica. Neste episódio se deve registrar, também, as sequelas traumáticas que muito provavelmente se inscreveram no psiquismo desse professor e que poderão mudar o seu comportamento como um todo, tanto na vida pessoal como na profissional. Sequelas como ansiedade, angústia, perda do prazer e da motivação de ensinar, depressão, os mais diversos medos de se relacionar com as pessoas, tornando-se uma pessoa desconfiada de tudo e de todos, medo de manter uma relação professor-aluno mais próxima, poderão advir de uma forma tal que afete a vida pessoal e profissional para o resto de sua vida.

Algumas crianças são tanto vítimas como agressores e são denominadas de vítima/agressor. Estas crianças, provavelmente, apresentam uma combinação de baixa autoestima, atitudes agressivas e provocativas e prováveis alterações psicológicas, merecendo atenção especial. Podem ser depressivas, ansiosas, inseguras e inoportunas, procurando humilhar os colegas para encobrir suas limitações (LOPES, 2005). As vítimas/agressores têm uma maior probabilidade de apresentar sérios problemas de comportamento externalizado e são, em grande frequência, maltratadas por seus colegas. Experienciam dificuldades com o comportamento impulsivo, reatividade emocional e hiperatividade. Diferenciam-se dos alvos típicos por serem impopulares e pelo alto índice de rejeição entre seus colegas (ROBIN, TOBLINA, SCHWARTZA, GORMANB, & ABOU-EZZEDDINEA, 2005).

O grupo de vítimas/agressores apresenta os maiores números de problemas de conduta, problemas na escola, problemas com o grupo de iguais, sintomas psicossomáticos e psicológicos, maiores encaminhamentos aos serviços psiquiátricos e uma maior probabilidade de persistência no seu envolvimento em bullying (LIANG, FLISHER, & LOMBARD, 2007). As vítimas/agressores apresentam certas características como sintomas de depressão, ansiedade e outras formas de estresse internalizado. Alguns pesquisadores apresentam a hipótese de que o comportamento agressivo destas crianças reflete um estado de pobreza em modular a raiva e a irritabilidade maior do que a capacidade de utilização de estratégias sociais com um objetivo orientado (ROBIN E COLS., 2005). Liang & cols. (2007) afirmam que, juntamente com o grupo de agressores, as vítimas/agressores estão mais suscetíveis ao uso excessivo de cigarros, álcool e outras substâncias. Este grupo apresenta o risco mais elevado para apresentar severas ideações suicidas. Apresentam risco aumentado para vários tipos de comportamento de risco, violência e comportamento antissocial, quando comparadas a crianças que não estão envolvidas em bullying (LIANG E COLS., 2007).

Em se tratando de vítimas/agressores, é importante fazer distinção entre comportamento agressivo proativo e reativo. O comportamento agressivo proativo envolve tentativas de influenciar o outro através de meios aversivos, em uma situação que não foi provocada (GINI & POZZOLI, 2006). É um comportamento voluntário, deliberado e influenciado por reforços externos (Lisboa, 2005). Este é o tipo de agressão utilizada pelos agressores típicos. Já o comportamento agressivo reativo é um ato impulsivo em resposta a uma provocação ou ameaça percebida (GINI & POZZOLI, 2006) e consiste em uma resposta defensiva de raiva (LISBOA, 2005). Este é o tipo de agressão utilizada pelas vítimas/agressores.

bullying ainda se evidencia como um tema bastante atual e intrigante, pois mesmo não sendo um acontecimento recente, observa-se claramente que ele é um fenômeno interligado e que interage a cada momento vivido por uma sociedade, sobretudo, seu efeito se torna ainda maior e sua prática mais acentuada, quando nos situamos numa sociedade globalizada e sem muitas barreiras que possam manter a cultura desse ou daquele povo mais preservada de culturas externas. Portanto, diante do que foi mencionado sobre a problemática do fenômeno e da ebulição social que nos defrontamos dia a dia, dando mostra que tal ebulição só tende a intensificar, o cuidado e a pesquisa a respeito do assunto também deverão se ampliar e novos olhares deverão compartilhar como observadores e cuidadores de uma sociedade que dia após dia está adoecendo. Este é o nosso papel, esta é a nossa obrigação como psicólogos. 

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.


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